sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O ATO SOBRENATURALMENTE MERITÓRIO


ATO MERITÓRIO SOBRENATURALMENTE é aquele que move a Deus Nosso Senhor a conceder-nos um prêmio sobrenatural.

DIVISÃO: Há o ato meritório DE CONDIGNO, isto é, quando seu valor é de algum modo (suposta a promessa de Deus) igual ao prêmio, de maneira que este fosse como que devido por justiça ao homem. Há o ato meritório DE CONGRUO, isto é, quando não há essa proporção e igualdade, nem se deve, por conseguinte, o prêmio ao ato senão por certa liberalidade.

Devemos dizer já inicialmente que os atos morais, pelos quais possamos chegar ao fim sobrenatural da vida eterna, devem ser sobrenaturais, e isto em razão da sobrenaturalidade interna do próprio ato, pela qual é elevado acima da natureza no seu próprio ser e quanto à substância deve ser sobrenatural: pois o caminho deve ser proporcionado ao término, e a obra ao prêmio. Ora, o fim da vida eterna é estritamente sobrenatural e é diverso essencialmente do último fim natural; logo também os atos pelos quais tendemos para este fim, devem, quanto à sua essência, ser sobrenaturais.

Vejamos, então, quais as CONDIÇÕES requeridas para que os atos humanos verdadeiramente sejam sobrenaturais. Quanto a isto há certas divergências entre os teólogos. Limitar-me-ei a expor o que todos admitem: a) É necessário que o ato seja MORALMENTE BOM; pois, o ato humano de si moralmente indiferente, não pode ser sobrenatural. Realmente o ato sobrenatural tem Deus por autor principal que move e ajuda pela graça; Deus, porém, não excita pela sua graça para a realização de atos indiferentes. Donde uma outra condição: b) É necessário que o ato proceda de um PRINCÍPIO SOBRENATURAL, ou seja, da potência elevada pela graça atual. Para o ato ser sobrenatural não basta só as forças naturais, mas é mister que seja realizado pelas forças sobrenaturais da graça. c) Autores de grande autoridade, como Santo Afonso, Suarez, Lehmkuhl e Mazzella exigem também que o MOTIVO seja SOBRENATURAL, ou seja, que proceda da fé. Mas como? Há várias explicações, mas o teólogo Noldin diz que se pode afirmar que o ato humano do homem fiel é sobrenatural e não se exige outra condição senão que seja etnicamente bom (honesto) e proceda da graça, ou seja, dum princípio sobrenatural.  Portanto, não é necessário  que o objeto do ato sobrenatural seja sobrenatural. Assim o objeto pode ser natural, desde que seja movido pelas forças da graça de Deus. É obvio que não queremos negar que o ato feito por um motivo sobrenatural de fé, seja de maior dignidade e valor. Daí, devemos aconselhar os fiéis a que se acostumem a fazer suas ações por motivos sobrenaturais de fé. Vamos dar o exemplo da esmola, e por ele podemos fazer aplicação às outras obras em si boas etnicamente. Aprendemos nas aulas de catecismo que a esmola é uma obra santa e muito agradável a Deus, como Ele mesmo revelou. Suponhamos que um fiel, sem no momento pensar nisso (que foi revelado por Deus como uma obra agradável a Ele) deu uma esmola ao pobre, fez na verdade uma obra sobrenatural meritória, embora só virtualmente este ato tenha procedido de um ato de fé. No entanto, suponhamos que, ao dar a esmola, lembrado dos ensinamentos da fé, pensou que o pobre foi remido por Jesus Cristo, que o pobre é irmão de Cristo; que Cristo assim preceituou a esmola porque por ela se consegue mais facilmente a vida eterna, então, digo, esta esmola teve muito mais merecimento diante de Deus.  Mas, no primeiro caso, não podemos negar que a obra foi também sobrenatural.  Daí devemos concluir que A RETA INTENÇÃO ATUAL, embora não seja necessário, no entanto, ela torna o ato sobrenatural mais digno e mais meritório.

Especificamente, quais as condições para o mérito DE CONDIGNO e DE CONGRUO? 1º - CONDIÇÕES PARA MERECER DE CONDIGNO: a) Da parte de quem merece se requer que  esteja na Igreja militante (procurando o caminho do Céu), que obre livremente, que seja justo (esteja em graça santificante) e que mereça para si. Agora, da parte da obra, que seja boa moralmente e também sobrenatural, isto é, que o ato seja realizado com o auxílio da graça atual. Da parte de Deus, que haja promessa de tal prêmio vinculado a tal obra. 2º - CONDIÇÕES PARA MERECER DE CONGRUO, são as mesmas condições, excetuando o estado de graça em quem merece para si, e a promessa certa de Deus.

Nós padres devemos exortar os fiéis a que façam toda manhã o ato de oferecimento do dia como é preceituado para o Apostolado da Oração: "Ofereço-vos, ó meu Deus, em união com o Santíssimo Coração de Jesus, por meio do Coração Imaculado de Maria, etc., e que façam com frequência orações jaculatórias de amor a Deus para atualizar os motivos sobrenaturais.

O teólogo Noldin explica esta palavra do Divino Mestre: "Quem ouve a minha palavra e crê em quem me enviou, tem a vida eterna" (S. João V, 24) isto é, tem, donde possa realizar obras de vida eterna, porque tem a condição, posta a qual, são fornecidas por Deus as graças sobrenaturais. Daí, continua Noldin, segue-se que a todos os fiéis, sejam justos ou pecadores, sempre está presente a graça atual, pela qual suas ações moralmente boas, se tornam sobrenaturais; mas com maior certeza pode-se afirmar que todas as obras moralmente boas dos JUSTOS sempre são executadas com o auxílio da graça de Deus e portanto, são sobrenaturais. Pois o Concílio de Trento assim fala sobre isto: "Porquanto Jesus Cristo mesmo dá a sua força aos justificados como a cabeça aos membros e a vide aos ramos. Esta força sempre antecede às suas obras que foram feitas em Deus, poderem plenamente, segundo o estado de vida, satisfazer à lei divina e a seu tempo (morrendo em estado de graça) conseguir a vida eterna" (Sessão VI, cap. 16. n. 809).


Terminemos com a advertência que o Sacrossanto Concílio de Trento faz no final do capítulo 16, nº 810: "Não se deve, todavia, omitir o seguinte: Embora na Sagrada Escritura se atribua tão grande valor às boas obras, que Cristo prometeu: Quem oferecer um copo de água fresca a um destes pequeninos, em verdade não ficará sem a sua recompensa(Mt. X, 14); e o Apóstolo testifique: O que presentemente é para nós uma tribulação momentânea e ligeira, produz em nós um peso de glória" (2 Cor. IV, 17); contudo, longe esteja o cristão de confiar ou se gloriar em si mesmo e não no Senhor (1 Cor. I, 31; 2 Cor. X, 17), cuja bondade é tanta para com todos os homens, que Ele quer que estes seus próprios dons se tornem merecimentos deles. E porque todos nós pecamos em muitas coisas (S. Tiago III, 2), cada qual deve ter diante dos olhos tanto a misericórdia e bondade de Deus, como a sua severidade e juízo, e não se julgar a si mesmo, embora nada lhe pese na consciência, porque a vida do homem há de ser toda examinada e julgada, não pelo tribunal humano, mas pelo de Deus, que há de alumiar as trevas mais recônditas e manifestar os desígnios dos corações, e então cada um receberá de Deus o louvor (1 Cor. IV, 4), que  -  como está escrito  -   dará a cada um conforme as suas obras (Rom. II, 6). 

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