terça-feira, 30 de agosto de 2016

UM PARÊNTESIS PARA ENTENDER ARGUMENTAÇÃO DE S. PAULO



   Para bem entendermos a argumentação de São Paulo, precisamos fazer um confronto entre o pensamento paulino e a mentalidade dos judeus. Estes estavam muito envaidecidos, julgando-se superiores aos gentios por causa da LEI, que lhes fora dada por Deus e também muito confiados em suas próprias forças para a prática da virtude. Mas não sabiam estes judeus de uma coisa muito importante: é que a lei nada adianta como remédio do pecado, se Deus não der a sua graça, sem a qual não é possível observá-la. A lei é na verdade, santa; e o mandamento é santo, e justo, e bom (Romanos VII-12), porque é a expressão da vontade de Deus. Mas a lei, por si só, não resolve o problema do homem, porque o que a lei nos traz é o conhecimento do que é pecado e do que não é: Pela lei é que vem o conhecimento do pecado (Romanos III-20); se a lei que foi dada pudesse VIVIFICAR,  a justiça, na verdade, seria pela lei (Gálatas III-21). O problema do homem não é somente saber o que é pecado e o que não é, o seu maior problema é este: quem o vivificará na luta contra o mal? quem lhe dará  forças para viver santamente, para evitar o pecado? Quem lhe dá forças para isto é a graça de Deus. A lei é espiritual, mas eu sou carnal (Romanos VII-14). Eu me deleito na lei de Deus, segundo o homem interior; mas sinto nos meus membros outra lei que repugna à lei do meu espírito e que me faz cativo na lei do pecado, que está nos meus membros. Infeliz homem eu, quem me livrará do corpo desta morte? A graça de Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor (Romanos VII-22 a 25).

   A graça de Deus, tinham-na os judeus e os gentios e tinham suficiente para a salvação, pois Deus quer que todos os homens se salvem (1ª Timóteo II-4). E não sabiam eles que esta graça que Deus lhes concedia era graça de Cristo (veja-se Atos XV-10 e 11), que Deus lhes dava por antecipação, em virtude dos futuros merecimentos do Salvador.

   Mas, apesar de ter sido oferecida a todos esta graça, apesar de terem podido, com o auxílio desta graça, os gentios observar a lei natural, e os judeus, a lei mosaica; na realidade estiveram muitíssimo longe de observá-las como deviam. E a conclusão natural disto é que sejam substituídas a lei natural e a lei mosaica, que pela ingratidão e malícia dos homens vieram a dar num grande fracasso, sejam substituídas pela fé em Cristo, pela Religião de Cristo, que nos vem trazer a graça em muito maior abundância: Onde abundou o pecado, superabundou a graça (Romanos V-20). De forma que, segundo os desígnios altíssimos de Deus, a lei mosaica serviu para mostrar aos homens a necessidade imensa em que o mundo se achava de receber a Cristo, a sua doutrina e a sua graça. E é neste sentido que diz São Paulo: A lei nos serviu de PEDAGOGO que nos conduziu a Cristo, para sermos justificados pela fé. Mas depois que veio a fé, já não estamos debaixo do pedagogo (Gálatas III-24 e 25). 

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