segunda-feira, 11 de maio de 2015

O PAI-NOSSO

 INTRODUÇÃO
Nesta postagem não é nosso objetivo explicar o Pai-Nosso. Fá-lo-emos, se Deus quiser, nas próximas postagens do outro blog "VIA-VERITAS-VITA". Aqui  procuraremos, com a graça de Deus, resolver uma dificuldade que, no mínimo, está perturbando os fiéis católicos que querem continuar seguindo com fidelidade a Sagrada Tradição através do Magistério perene da Santa Madre Igreja.
Há o provérbio popular que diz: "Ensinar o Pai-Nosso ao Vigário". Vivemos em tempos tão conturbados que este provérbio está se realizando "ipsis litteris", isto é, com as mesmas letras. Pois, uns dizem: "Senhor Vigário, o senhor está errado porque está rezando no Pai-Nosso: "perdoai as nossas ofensas e não dividas". Já outros dizem: "Senhor Vigário, o senhor está errado porque está rezando no Pai-Nosso: "perdoai as nossas dívidas e não ofensas".
  Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo, aqui nesta postagem deste blog, quem vai ensinar o Pai-Nosso é o Vigário, embora, com certeza, não o mais indicado entre os vigários. Na verdade, nem vigário sou, mas quero orientar meus fiéis e talvez possa ajudar a muitos outros. É o que desejo do fundo da alma.

   No século IV o imperador Constantino construiu uma grande basílica no Monte das Oliveiras, onde, segundo uma tradição local, Jesus ensinou o Pater Noster. Muito depois, ou seja, em 1869 foi construído anexo um Carmelo de Carmelitas francesas e se chama "Carmelo do "Pater Noster". Na igreja, fora da clausura vemos nas paredes, o Pai-Nosso em todas as línguas do mundo. Estive lá em agosto de 2000. Pedimos ao nosso guia que é judeu, se ele podia ler o Pai-Nosso em aramaico para a gente ter uma idéia melhor de como Jesus falou. Havia no fim o Amém como está em São Mateus, mas ele não leu o Amém. Perguntamos- lhe o  porquê. Ele  disse: "Se eu falasse o Amém estaría aprovando a Jesus e eu não aceito Jesus. Mas vamos ao assunto que determinamos   tratar nesta postagem.
   Todos sabemos que foi Jesus quem ensinou o Pai-Nosso. Por isso é a oração mais perfeita e mais bela que existe. É a oração do Senhor ou "Oração Dominical". "Dominus" em latim quer dizer "Senhor". Quão  importante e necessário é que rezemos o Pai-Nosso como Jesus ensinou! Devemos rezá-lo não só com grande devoção mas também  como Jesus rezou, portanto, com toda fidelidade. É a finalidade desta postagem.
   Dois Evangelistas relatam a passagem em que se narra como Jesus  ensinou o Pai-Nosso: São Mateus, VI, 9-13 e São Lucas, XI, 1-3. Pelos estudos da Exegese parece que Jesus só se utilizou do aramaico. Pois, falava-se na Palestina, naquela época, a língua aramaica, que era aliás muito parecida com o hebraico, idioma original dos judeus. Usava-se também o grego ( a lingua da ciência e da filosofia) e o latim. Este último, por ser a língua oficial do império romano, ao qual estava sujeita a Palestina na época.
   Concluímos com toda porbabiladade que Jesus ensinou o Pai-Nosso em aramaico. São Mateus também escreveu seu Evangelho em aramaico. Já São Lucas escreveu o terceiro Evangelho em grego. São Lucas é o único que não pertence a raça judaica. Nasceu em Antioquia. Era médico e escrevia em grego. Possuia, inclusive, grande conhecimento desta língua, e o seu Evangelho, literária e historicamente é o mais perfeito.
   Quanto ao Pai-Nosso os relatos de São Mateus e de São Lucas, não são iguais. São Lucas é mais sucinto. Por isso a Santa Madre Igreja adotou o de São Mateus completado com alguma palavra do de São Lucas. De São Mateus a Igreja adotou  o Amém, segundo a Vulgata de São Jerônimo. Agora vamos ao ponto nevralgico: dívidas ou ofensas?
    Além de São Lucas, também São Marcos e São João escreveram em grego. São Jerônimo traduziu os quadro Evangelhos para o latim. Em São Mateus traduz  empregando a palavra "debita" que quer dizer: "dívidas". Em São Lucas traduz "peccata" que quer dizer: "pecados". A palavra empregada no aramaico por São Mateus corresponde no grego à  palavra "ofeilémata" que em português quer dizer exatamente: "dívidas". São Lucas, porém, não empregou esta palavra, mas a substituiu pela palavra grega "martías"  que em português quer dizer exatamente: "pecado". São Lucas  assim o fez (e como já dissemos ele tinha um conhecimento profundo do grego) porque esta palavra pecado era mais clara para os leitores gregos, enquanto a palavra "ofeilémata" = dívidas, sugeria-lhes a idéia de obligação pecuniária. Por sua vez, São Mateus empregou a palavra aramaica que significava , dívidas, porque no aramaico a noção de pecado exprimia-se correntemente pela palavra dívida. E a demonstração mais clara disto é o exemplo do próprio Jesus que fez a parábola dos "Servos Devedores', para mostrar que, se a gente não perdoar as ofensas que o próximo nos faz, também Ele não perdoa os nossos pecados. Logo depois de ensinar o Pai-Nosso, Jesus disse: "Porque, se vós perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará os vossos pecados. Mas, se não perdoardes aos homens, tão pouco vosso Pai vos perdoará os vossos pecados". (São Mateus, VI, 14 e 15).
   Vemos assim que já nas origens havia as duas palavras. E isto explica o porquê das diferenças, aliás mais aparentes do que reais, nos diversos idiomas do mundo, ao se rezar o Pai-Nosso. Fiz uma pesquisa com o escasso material que tenho em mão, e pude conseguirr o seguinte: Em Portugal se rezava "ofensas" ( Pai-Nosso num livro de 1940 e no PEQUENO MANUAL DO CATEQUISTA do célebre teólogo Perardi, manual este editado em 1955 em LISBOA; na gáfica UNIÃO, traz o Pai-Nosso em Latim e ao lado em Português: e lá está: "perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido"); Em França se rezava "offences"= ofensas (Pai-Nosso num livro de 1914); Em Itália se rezava "debiti" = dívidas ( Pai-Nosso num livro de 1960); Em Espanha se rezava "deudas" = dívidas ( Pai-Nosso num livro de 1928). No Brasil se rezava dívidas e não ofensas. Mas, depois do Concílio Vaticano II, infelizmente não tenho a data exata, os bispos do Brasil decidiram passar a rezar ofensas como se rezava, aliás, em Portugal. D. Antônio de Castro Mayer não teve nenhuma dificuldade em aceitar a mudança e a impôs na Diocese de Campos, inclusive, ao imprimir o Catecismo já colocou o Pai-Nosso com as modificações. O Padre Emanuel José Possidente em 1972, quando imprimiu seus "PLANOS DE AULAS" (=Explicação do Pequeno Catecismo) faz a explicação do Pai-Nosso segundo já as mudanças, ou seja, "perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos têm ofendido". Mas, numa reunião do Clero um dos nossos sacerdotes (já falecido) apresentou uma objeção e, na hora todos nós aceitamos, e D. Antônio de Castro Mayer voltou atrás e mandou que se continuasse rezando o Pai-Nosso como até então sempre fôra no Brsasil.
    Aconteceu que , com a vinda do novo Bispo, D. Carlos Navarro, houve a divisão na Diocese de Campos, porque o Bispo nos expulsou de nossas paróquias. Bom, assim o povo que ficou do lado do novo Bispo rezava o Pai-Nosso com as mudanças (= perdoai  nossas ofensas) e nós continuamos com a versão tradicional no Brasil (= perdoai as nossas dívidas). Isto criou no nosso povo uma idéia errada de que rezar nossas ofensas seria progressismo. E vimos, pela exposição exegética e histórica que realmente, esta mudança não envolvia nenhum progressismo. Ninguém irá tachar de progressistas ao Santo Cura d'Ars ou a Santa Terezinha porque rezavam : "pardonnez-nous nos offenses, comme nous pardonnons à ceux qui nous ont offensés", (Em português: "perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido"). Portanto estas diferenças já havia antes do Concílio Vaticano II. E mesmo que tivesse vindo dele não teria nada demais. A coisa tem que ser olhada objetivamente.
   Francamente que eu não saberia dizer se a mudança foi só no Brasil ou também nos outros países em que se rezava "nossas dívidas". Se alguém souber e puder me esclarecer, ficarei muito agradecido! E, se cometi algum erro nesta singela explicação, a quem me corrigir, ficar-lhe-ei muito grato por esta caridade.

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