quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 2 )

   40. MARTINHO LUTERO FAZ-SE MONGE.


   Martinho Lutero nasceu em Eisleben, na Alemanha, a 10 de novembro de 1483. Jovem católico e piedoso, que mantinha relações de amizade com alguns frades e andava impressionado com as tentações que sentia na convivência com outros estudantes, um dia um acontecimento vem a ser decisivo na sua vida. Estava com 19 anos incompletos, pois foi a 2 de julho de 1502. Surpreendido em viagem por uma violenta tempestade, ficou aterrado com a perspectiva da morte. E fez uma promessa a Sant'Ana, a quem se costumava recorrer nesses transes: "Se tu ajudas, Santa Ana, tornar-me-ei frade". Mais tarde ele dirá naquela sua linguagem sempre estabanada: "Tornei-me frade por violência, contra a vontade de meu pai, de minha mãe, de Deus e do diabo...Fiz este voto para me salvar" (Weimar T. tomo IV, nº 4414).
   Digamos, entre parênteses, que a alegação de Lutero não tem razão de ser. Ou o medo lhe transtornara completamente o uso das faculdades, ou não. No primeiro caso, o voto não o obrigava, pois para isto era preciso que se fizesse livremente. No segundo caso, sabia ele, como católico que era naquele tempo, que lhe restava um recurso: pedir a dispensa ao Sumo Pontífice, a quem foi dado o poder de ligar e desligar. 

  O fato, porém, é que Lutero entra no convento sem a necessária vocação. E, segundo ele próprio confessa, não encontrou a paz interior na vida religiosa.

   Muitos autores que estudaram profundamente a personalidade de Lutero, entre os quais o católico H. Grisar (Lutero, 3ª edição, Tomo III, p. 596-673) e o historiador protestante A. Hausrath na sua biografia sobre Lutero (3ª edição, Berlim; tomo II, p. 31-36), são de opinião que Lutero era um homem doente e anormal. Da mesma opinião é o médico Guilherme Ebstein em obra aparecida em Stuttgar em 1908. Afirmando esta tese, apareceu uma obra em 2 volumes em Copenhague (1937 e 1941) escrita pelo médico P. J. Reiter e intitulada: Ambiente, Caráter e Psicose de Martinho Lutero. A obra, como é natural, desagradou aos luteranos e provocou discussões.

   Seja, porém, como for, o que é certo é que Martinho Lutero era um sentimental e se preocupava doentiamente com o problema da predestinação, querendo sentir em si à fina força a certeza de que era um predestinado. Queria experimentar claramente a sensação de que seus pecados estavam perdoados e de que se achava na graça de Deus e não sentia este conforto, esta certeza, por causa das tentações da nossa natureza corrompida. A acreditarmos nas suas palavras, ele era dominado por escrúpulos, chegando a confundir as tentações com o próprio pecado, que só existe quando as tentações são consentidas. Como ele dirá mais tarde: "Quando eu era monge, acreditava imediatamente que perdia minha salvação, cada vez que experimentava a concupiscência da carne, isto é, um mau movimento de desejo, de cólera, de ódio, de inveja a respeito de um irmão etc. Eu punha em uso muitos remédios, confessava-me diariamente, mas isto não me servia de nada. Porque sempre a concupiscência da carne reaparecia. Eis porque eu não podia achar paz, mas estava perpetuamente em suplício pensando: Tu cometeste tal ou tal pecado, estás ainda sujeito à inveja, à impaciência etc. Foi em vão que recebeste as ordens e todas as tuas obras são inúteis" (Comentário da Epístola aos Gálatas 1535, Weimar, tomo XL). 

   No meio destas angústias, encontra um confessor e amigo, o Padre Staupitz, que o ajuda e faz o possível para acalmá-lo. Diz Lutero em uma carta dirigida a Jerônimo Weller em julho de 1530: "Nos começos de minha vida religiosa, eu estava sempre triste e não conseguia desembaraçar-me deste estado de alma. Pedi então a orientação do doutor Staupitz, e me confessei com ele. Manifestei-lhe meus pensamentos horríveis e aterradores. E ele me respondeu: Não compreendes, Martinho, que esta tentação te é útil e necessária? Não é em vão que Deus assim te exercita" (Weimar, B. t. V, p. 519). Em outra ocasião lhe diz o Padre Staupitz: "Por que te torturas com estas subtilezas? Volta o teu olhar para as chagas de Cristo e olha para o sangue que Ele derramou por ti" (Opera Exegetica t. VI, p. 296 e 297). 
    

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