domingo, 28 de janeiro de 2018

São Pio X: "Um dos graves erros do "Sillon" é o interconfessionalismo"

   Apresentamos aqui apenas alguns excertos da Encíclica "Notre Charge Apostolique" com que São Pio X condenou o movimento nascido na França e chefiado por Marc Sangnier: "Le Sillon" ( = Sulco).
   No início foi bom. Eis como São Pio X fala dos bons tempos do "Sillon":
 "O "Sillon" levantou, entre as classes operárias, o estandarte de Jesus Cristo, o sinal da salvação para os indivíduos e as nações, alimentando sua atividade social nas fontes da graça, impondo o respeito da religião nos ambientes menos favoráveis , habituando os ignorantes e os ímpios a ouvir falar de Deus..."
  Era um movimento da juventude. Infelizmente, os sillonistas, como demonstra São Pio X, caíram em vários erros e se tornaram anti-clericais. São Pio X desmascara e condena os seus erros. Mas aqui vamos transcrever o que São Pio X diz sobre o "INTERCONFESSIONALISMO":
"Houve um tempo em que o Sillon , como tal, era formalmente católico. Em matéria de força moral, só conhecia uma: a força católica, e ia proclamando que a democracia havia de ser católica, ou não seria democracia. Em dado momento, entretanto, mudou de parecer. Deixou a cada um em sua religião ou sua filosofia. Ele próprio deixou de se qualificar de "católico", e a fórmula "A democracia há de ser católica" substituiu-a por esta "A democracia não há de ser anti-católica", tanto quanto, aliás, antijudaica ou antibudista. Foi a época do "maior Sillon". Todos os operários de todas as religiões e de todas as seitas foram convocados para a construção da cidade futura. Outra coisa não se lhes pediu a não ser que abraçassem o mesmo ideal social, que respeitassem todas as crenças e que trouxessem um saldo de forças morais. Certamente, proclamava-se, "Os chefes do Sillon põem sua fé religiosa acima de tudo. Mas podem recusar aos outros o direito de haurir sua energia moral lá onde podem? Em troca, querem que os outros respeitem seu direito, deles, de hauri-la na fé católica. Pedem, pois, a todos aqueles que querem transformar a sociedade presente no sentido da democracia, que não se repilam mutuamente por causa de convicções filosóficas ou religiosas que os possam separar mas que marchem de mãos dadas, não renunciando a suas convicções, mas experimentando fazer, sobre o terreno das realidades práticas, a prova da excelência de suas convicções pessoais. Talvez que neste terreno de emulação entre almas ligadas à diferentes convicções religiosas ou filosóficas a união se possa realizar" (Marc Sangnier, discurso de Rouen, 1907); ... "Os camaradas católicos se esforçarão entre si próprios, numa organização especial, por se instruir e se educar. Os democratas protestantes e livre-pensadores farão o mesmo de seu lado. Todos, católicos, protestantes e livre-pensadores terão em mira armar a juventude não para uma luta fratricida, mas para uma generosa emulação no terreno das virtudes sociais e cívicas" (Marc Sangnier, Paris, maio de 1910). Estas declarações e esta nova organização da ação sillonista provocam bem graves reflexões. Eis uma associação interconfessional, fundada por católicos, para trabalhar na reforma da civilização, obra eminentemente religiosa, porque não há civilização verdadeira sem civilização moral, e não há verdadeira civilização moral sem a verdadeira religião: é uma verdade demonstrada, é um fato histórico. E os novos sillonistas não poderão pretextar que só trabalharão "no terreno das realidades práticas" onde a diversidade das crenças não importa. Seu chefe tão bem percebe esta influência das convicções do espírito sobre o resultado da ação, que os convoca, qualquer que seja a religião a que pertençam, a "fazer no terreno das realidades práticas a prova da excelência de suas convicções pessoais". E, com razão, porque as realizações práticas revestem o caráter das convicções religiosas, como os membros de um corpo, até às últimas extremidades, recebem sua forma do princípio vital que o anima. Isto posto , que deve pensar da promiscuidade em que se acharão agrupados os jovens católicos com heterodoxos e incrédulos de toda espécie, numa obra desta natureza? Esta não será mil vezes mais perigosa para eles do que uma associação neutra? Que se deve pensar deste apelo a todos os heterodoxos e a todos os incrédulos para virem provar a excelência de suas convicções no terreno social, numa espécie de concurso apologético, como se este concurso já não durasse há 19 séculos, em condições menos perigosas para a fé dos fiéis e sempre favorável à Igreja Católica? Que se deve pensar deste respeito a todos os erros e deste estranho convite, feito por um católico a todos os dissidentes, fortificarem suas convicções pelo estudo e delas fazer as fontes sempre mais abundantes de novas forças? Que se deve pensar de uma associação em que todas as religiões, e mesmo o livre-pensamento, podem manifestar-se altamente à vontade? Porque os sillonistas que, nas conferências públicas e em outras ocasiões proclamam altivamente sua fé individual, não pretendem certamente fechar a boca aos outros e impedir que o protestante afirme seu protestantismo e o cético, seu cetiscismo. Que pensar, enfim, de um católico que, ao entrar em seu círculo de estudos, deixa na porta seu catolicismo, para não assustar seus camaradas que, "sonhando com uma ação social desinteressada, têm repugnância de a fazer servir ao triunfo de interesses, de facções, ou mesmo de convicções, quaisquer que sejam"?  Tal é a profissão de fé na nova Comissão Democrática da Ação Social, que herdou a maior tarefa da antiga organização, e que, assim afirma, "desfazendo o equívoco em torno do maior Sillon, tanto nos meios racionários como nos meios anticlericais", está aberta a todos os homens "respeitadores das forças morais e religiosas e convencidos de que nenhuma emancipação social verdadeira será possível sem o fermento de um "generoso idealismo". Ah, sim! O equívoco está desfeito; - conclui com ironia São Pio X - a ação social do Sillon não é mais católica; o sillonista, como tal não trabalha para uma facção, e "a Igreja, ele o diz, não deveria, por nenhum título, ser a beneficiária das simpatias que sua ação possa suscitar". Insinuação estranha, em verdade! Teme-se que a Igreja se aproveite, com objetivo egoísta e interesseiro, da ação social do Sillon, como se tudo o que aproveita à Igreja não aproveitasse à humanidade! Estranha inversão de idéias: a Igreja é que seria beneficiária da ação social, como se os maiores economistas já não houvessem reconhecido e demonstrado que a ação social é que, para ser real e fecunda, deve beneficiar-se da Igreja. Porém, mais estranha ainda, ao mesmo tempo inquietantes e acabrunhadoras, são a audácia e a ligeireza de espírito de homens que se dizem católicos, e que sonham refundir a sociedade em tais condições, e estabelecer sobre a terra, por cima da Igreja Católica, "o reino da justiça e do amor", com operários vindos de toda parte, de todas as religiões ou sem religião, com ou sem crenças, contanto que se esqueçam do que os divide: suas convicções religiosas e filosóficas, e ponham em comum aquilo que os une: um generoso idealismo e forças morais adquiridas "onde possam". Quando se pensa em tudo que foi preciso de forças, de ciência, de virtudes sobrenaturais para estabelecer a sociedade cristã, e nos sofrimentos de milhões de mártires, e nas luzes dos Padres e dos Doutores da Igreja, e no devotamento de todos os heróis da caridade, e numa poderosa Hierarquia nascida no céu, e nas torrentes da graça divina, e tudo isto edificado, travado, compenetrado pela Vida e pelo Espírito de Jesus Cristo, a Sabedoria de Deus, o Verbo feito homem; quando se pensa, dizíamos, em tudo isto, fica-se atemorizado ao ver novos apóstolos se encarniçarem por fazer melhor, através da atuação dum vago idealismo e de virtudes cívicas. Que é que eles querem produzir? Que é que sairá desta colaboração? Uma construção puramente verbal e quimérica, em que se verão coruscar promiscuamente, e numa confusão sedutora, as palavras liberdade, justiça, fraternidade e amor, igualdade humana, e tudo baseado numa dignidade humana mal compreendida. Será uma agitação tumultuosa, estéril para o fim proposto, e que aproveitará aos agitadores de massas, menos utopistas. Sim, na realidade, pode-se dizer que o Sillon escolta o socialismo, o olhar fixo numa quimera. Tememos que ainda haja coisa pior. O resultado desta promiscuidade em trabalho, o beneficiário desta ação cosmopolita só poderá ser uma democracia, que não será nem católica, nem protestante, nem judaica; seria uma religião (porque o sillonismo, como seus chefes o afirmam, é uma religião) mais universal do que a Igreja Católica, reunindo todos os homens tornados enfim irmãos e camaradas no "reino de Deus". - "Não se trabalha pela Igreja, dizem, trabalha-se pela humanidade".

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