segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Profunda crise da fé no seio da Igreja

Extraído  da Carta Pastoral "Aggiornamento e Tradição" (1971)  de D. Antônio  de Castro Mayer

   "...Na ocorrência do quinto aniversário do encerramento do II Concílio do Vaticano, o Santo Padre, Paulo VI, em memorável Exortação, encarecia aos Bispos católicos do mundo inteiro a obrigação de cuidar da ortodoxia no ensino da doutrina católica. 
   "Eis, pois, amados filhos, que não eram vãos os nossos temores. Os males que receamos em Nossa Diocese, de fato, ameaçam os fiéis do mundo todo. Aliás, não teria sentido a Exortação pontifícia, dirigida a todos os Bispos católicos da terra.
   "...Ao direito imprescritível que tem o fiel de receber o ensinamento sagrado, corresponde nos Bispos "o dever grave e urgente de anunciar infatigavelmente a Palavra de Deus, para que o povo cresça na fé e na inteligência da Mensagem cristã". (A.A.S.. p. 100). 
   Semelhante ofício do múnus episcopal é, hoje, mais imperioso, porque lavra no seio da Igreja uma crise generalizada e sem precedentes, como atesta o Papa, porque, conduzida por membros da Igreja, abala profundamente a consciência dos fiéis, pois os confunde no que eles têm de mais essencial na Religião. 
   Afirma, com efeito, Paulo VI, no Documento que estamos a apresentar, que hoje "muitos fiéis se sentem perturbados na sua fé por um acumular-se de ambiguidades, de incertezas e de dúvidas, atingem essa mesma fé no que ela tem de essencial. Estão neste caso os dogmas trinitário e cristológico, o mistério da Eucaristia e da Presença Real, a Igreja como instituição de salvação, o ministério sacerdotal no seio do Povo de Deus, o valor da oração e dos Sacramentos, as exigências morais que dimanam, por exemplo, da indissolubilidade do matrimônio ou do respeito pela vida. Mais: até a própria autoridade divina da Escritura chega a ser posta em dúvida, em nome de uma "desmitização radical" (A.A.S.  p. 99).
   Como vedes, amados filhos, a crise na Igreja não poderia ser mais profunda. Lendo as palavras do Papa, nós nos perguntamos: que ficou de intacto no Cristianismo? pois, se não há certeza sobre o dogma trinitário, mistério fundamental da Revelação cristã, se pairam ambiguidades sobre a Pessoa adorável do Homem-Deus, Jesus Cristo, titubeia-se diante da Santíssima Eucaristia, se não se entende a Igreja com instituição de salvação, se não se sabe a que o Sacerdote entre os fiéis, nem há segurança das obrigações morais, se a oração não tem valor, nem a Sagrada Escritura, que há de Cristianismo, de Revelação cristã? Compreendemos que o Papa se sinta impelido a excitar o zelo dos Bispos, guardiães da Fé, sagrados para serem autênticos Pastores que apascentem com carinho, desvelo e firmeza, as ovelhas do Divino Pastor das almas. 
   Tanto mais, quanto a Exortação do Santo Padre deixa entrever que há uma verdadeira conspiração para demolir a Igreja. É o que se deduz do trecho seguinte ao acima citado, no qual o Pontífice observa que às dúvidas, somam-se o silêncio "sobre certos mistérios fundamentais do Cristianismo" e a "tendência para construir um novo cristianismo a partir de dados psicológicos e sociológicos" no que "vida cristã esteja destituída de elementos religiosos" (A.A.S.  p. 99).
   Há, pois, entre os fiéis, um movimento de ação dupla convergente para a formação de uma nova Igreja, que só pode ser uma nova falsa religião: de um lado, criam-se incertezas sobre os mistérios revelados; de outro, estrutura-se uma vida cristã ao sabor do espírito do século". 

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