sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

LEITURA ESPIRITUAL - Dia 22 de janeiro

Da graça das consolações espirituais 

  Talvez fosse mais acertado dizer: As consolações espirituais da graça. Porque, na verdade, nunca haverá consolação se não houver graça. Por outro lado pode acontecer que a alma passe por provações e então, embora esteja em graça, não sente as consolações da mesma. 
  As consolações espirituais excedem todos os prazeres do mundo e os deleites da carne. Porque todas as delícias do mundo ou são torpes ou vãs; e só as espirituais são alegres e honestas, geradas pelas virtudes e infundidas por Deus nos corações puros. Mas ninguém pode conseguir  gozar continuamente destas consolações divinas à medida de seu desejo; porque breve é o tempo em que não há tentação. E a tentação é sempre um sofrimento; e tanto maior quanto maior é o nosso amor a Deus, Nosso Senhor. 
  Um grande obstáculo às consolações celestes é a falsa liberdade da alma, e a presunçosa confiança em si mesmo. 
   Deus faz tudo para nosso bem! Deus faz bem ao homem dando-lhe a graça da consolação; o homem faz mal não atribuindo tudo a Deus e não lhe dando graças. E se não nos achamos enriquecidos dos dons da graça, é porque somos ingratos a seu Autor; não lhos atribuímos como à fonte de todo o bem. Porque nunca recusa Deus a graça da consolação a quem é dignamente agradecido; e nega de ordinário ao soberbo o que costuma dar ao humilde.
  As consolações espirituais não são para tirar a compunção; nem para fazer a alma cair em desvanecimento. Infelizmente, nossa miséria pode desviar deste modo o que Deus nos deu só para nos ajudar a progredir na vida espiritual. Por esta razão muitas vezes Deus retira as consolações. Assim o homem instruído pela graça da consolação e castigado com tê-la perdido, não ousará atribuir-se a si bem algum; antes se confessará pobre e sem merecimento. Compreenderá que as consolações são graças de Deus para ajudá-lo, porque é de si muito fraco. 
  Os maiores santos diante de Deus são os mais pequenos a seus próprios olhos; e quanto mais consolações têm, tanto mais humildes são no seu conceito. Como estão cheios da verdade, e glória celeste, não se desvanecem com as graças das consolações. Fundados e fortalecidos em Deus, de nenhum modo podem ser soberbos. Referindo a Deus todo o bem que receberam, não buscam a glória dos homens, e só querem a que vem de Deus: seu único fim , seu desejo constante, é que Deus seja louvado acima de todas as coisas. 
  Se considerardes a dignidade de quem dá, nenhum dom te parecerá pequeno ou desprezível. Nunca é pouco o que dá um Deus soberano e o melhor dos pais. E ainda que nos dê pena os seus castigos, Lho devemos agradecer, porque sempre é para nossa salvação tudo o que faz ou permite que nos aconteça. Se dá consolações espirituais é para nosso bem; se no-las retira é também para o nosso aproveitamento espiritual. Se queres conservar a graça das consolações de Deus, sê grato quando a recebes, e paciente quando a perdes.
   Diz São Paulo: "Que tens tu que não recebeste? E se o recebeste, por que te glorias como se não o receberas?" Na verdade, não podemos por nós mesmos ter um bom pensamento sequer. Toda nossa capacidade para o bem vem de Deus. 
   Que não devemos nós a esse Deus de bondade, e que Lhe devemos por tantos benefícios? Mas, Ele pede nosso coração: "Filho, dá-me teu coração!". Ah! em nossa indigência outra coisa não temos a oferecer-Lhe senão nosso coração, e é tudo o que Ele pede da sua pobre criatura. Pertença-Lhe pois, este coração, sem reserva nem partilha; não queira ele e não busque senão a Deus, não viva senão de seu amor; e comece assim na terra aquela união inefável que virá a ser a nossa eterna felicidade. 
  Ó meu Jesus, Vos entrego, o meu coração, pois tendes amor para me amparar se estou perdido, para me abrasar se estou frio, para me purificar se estou manchado e para me unir à Vós, para sempre, ainda que tivesse andado até agora apartado de Vós. Renuncio daqui para sempre a todo o outro amor. Fazei Vós, Senhor, que todo o apego desordenado me enfastie e aborreça, e não procure senão o vosso amor, porque a Vós só deseja agora a minha alma, e deseja amar-Vos para sempre. A minha consolação é contentar a Vós!
  O ramalhete espiritual de hoje serão as palavras de São João da Cruz: "Procurar o Deus das consolações, e não as consolações de Deus". 

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