quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

LEITURA ESPIRITUAL - Dia 10 do mês

Da caridade

   Para proveito de algum necessitado, se pode, e alguma vez, se deve interromper a boa obra e assim trocá-la por outra melhor. Desta sorte não se deixa de obrar bem, antes, se muda em melhor.
    A obra exterior sem caridade de nada aproveita, mas tudo o que se faz com caridade, por pouco e desprezível que seja produz abundantes frutos, porque Deus, Nosso Senhor, olha mais o afeto ou intenção com que obramos que para a obra em si. 
    Quem ama a Deus tem também caridade para com o próximo. Deus é caridade e nos leva a praticar a caridade. E muito faz quem muito ama. 
    Não havendo, porém, o verdadeiro amor a Deus, muitas vezes parece caridade o que é, na verdade, amor próprio; porque a propensão de nossa natureza, a própria vontade, a esperança de recompensa, o gosto da comodidade, raras vezes nos deixam.
    Quem, porém, tem verdadeira e perfeita caridade em nenhuma coisa se busca a si mesmo, mas deseja que em todas Deus seja glorificado. Deseja sobre todas as coisas ter alegria e felicidade em Deus.
     Para chegarmos ao verdadeiro amor de Deus e à verdadeira caridade para com o próximo devemos trabalhar sempre no sentido de vencer o nosso amor próprio que tende sempre a passar dos limites. Assim, quase todas as ações dos homens nascem dum princípio viciado, daquela tríplice concupiscência de que fala São João na sua 1ª Epístola, II, 16. Aliás, este Apóstolo predileto do Divino Mestre tem palavras belíssimas sobre a caridade e, com justiça, é chamado o Apóstolo da caridade. "Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque a caridade vem de Deus. Todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é caridade. Nisto se manifestou a caridade de Deus para conosco, em que Deus enviou o seu Filho unigênito ao mundo, para que por Ele tenhamos a vida. A caridade consiste nisto: em não termos sido nós os que amamos a Deus primeiro, mas em que Ele foi o primeiro que nos amou e enviou o seu Filho, como vítima de propiciação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, devemos nós também amar-nos uns aos outros... Temos de Deus este mandamento: que aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão". 
    Caríssimos, como dizia acima, devemos combater o demasiado amor próprio porque ele corrompe de ordinário as mesmas obras que parecem as mais puras. Quantos trabalhos, quantas esmolas, quantas penitências, em que os homens põem grande confiança, serão talvez estéreis para o céu! Deus não se dá senão àqueles que o amam: Ele é o prêmio da caridade, daquele amor inefável, sem limites e sem medida. o qual, enquanto tudo o mais passa, permanece eternamente, como diz São Paulo.
    Admoestar e corrigir os que erram é uma obra de caridade; mas se alguém, admoestado uma ou duas vezes, se não emendar, não porfies como ele; mas encomenda tudo a Deus. 
     Estuda e aprende a sofrer com paciência quaisquer defeitos e fraquezas alheias, pois que tu tens muito que te sofram os outros. Infelizmente, muitas vezes, ofendemo-nos com facilidade dos defeitos alheios e não trabalhamos por emendar os nossos. Ninguém há sem defeito, ninguém é suficiente nem completamente sábio para si: mas convém que uns aos outros nos soframos, nos consolemos e reciprocamente nos ajudemos com instruções e advertências.
      Volta os olhos para ti mesmo e vê se teus irmãos não têm nada que sofrer de ti! A verdadeira piedade tudo sofre com paciência porque ela nos faz ver o que somos. O que se sente fraco e deplora sua fraqueza, não se ofende facilmente das fraquezas dos outros. Sabe muito bem que todos nós temos necessidade de conforto, de indulgência e de misericórdia: desculpa, compadece-se, perdoa, e conserva assim a paz interior e dá mostras exteriores de verdadeira caridade.
      Ó amor divino, único que fazeis os santos, Amor que sois Deus, penetrai, possuí, transformai  em Vós todas as potências de minha alma, sede a minha vida, a minha única vida, agora e sempre nos séculos dos séculos Assim seja!
      Os elogios que São Paulo faz da caridade serão o ramalhete espiritual de hoje: "A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não é temerária; não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre" (1 Cor. XIII, 4-7). 

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