sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A VOCAÇÃO PARA A FÉ



   Fica, portanto, esclarecido, que o merecimento das nossas obras só se começa a contar desde o momento em que começamos a possuir a GRAÇA SANTIFICANTE.

   Se é assim, é claro que a nossa passagem do estado de infidelidade ou de descrença para a FÉ, se opera também sem merecimento da nossa parte. Já vimos que a Igreja condenou a doutrina dos semipelagianos, os quais afirmavam que o primeiro movimento do homem para a fé, o impulso inicial que o leva a crer, é obra exclusiva do nosso livre arbítrio, quando a Igreja afirma que este primeiro movimento para a fé é obra da graça de Deus. Assim a VOCAÇÃO PARA A FÉ, a graça atual que vai tocar o coração do homem que ainda não crê, é um dom de Deus, concedido gratuitamente, sem merecimento das obras humanas. Deus, quando chama o homem para a fé, não o faz porque ele o tenha merecido pelas suas obras, pois a fé é também um dom sobrenatural. Ele o faz por pura bondade e benevolência, podendo chamar até mesmo os maiores pecadores. E é sobre este ponto que São Paulo fala a Timóteo: Trabalha comigo no Evangelho, segundo a virtude de Deus, que nos livrou e CHAMOU COM A SUA SANTA VOCAÇÃO, NÃO SEGUNDO AS NOSSAS OBRAS, mas segundo o seu propósito e GRAÇA que nos foi dada em Jesus Cristo antes de todos os séculos (2ª Timóteo I-8 e 9). 

   É também à GRAÇA DA VOCAÇÃO PARA A FÉ, que se refere São Paulo quando diz: E se isto foi por graça, não foi já PELAS OBRAS; doutra sorte a graça já não será graça (Romanos XI-6). Senão, vejamos.

   São Paulo termina o capítulo 10º referindo-se à incredulidade e rebeldia com que os judeus rejeitaram o Evangelho e citando as palavras de Isaías: Todo o dia abri as minhas mãos a um povo incrédulo e rebelde (Romanos X-21).

   E, logo no começo do capítulo XI, ele afirma que não se segue daí que o povo de Israel esteja completamente rejeitado. No meio de tantos judeus obstinados e endurecidos, Deus reservou alguns para lhes dar A GRAÇA DA VOCAÇÃO PARA A FÉ. E um exemplo está nele próprio, São Paulo, que é judeu e no entanto foi convertido à Religião Cristã: Eu também sou israelita, do sangue de Abraão, da tribo de Benjamim (Romanos XI-1). 

   E São Paulo faz uma comparação com o que aconteceu ao profeta Elias, nos tenebrosos tempos do rei Acab e de sua mulher Jezabel, quando parecia que o povo judaico na sua totalidade tinha abandonado a Deus e a sua lei: Porventura não sabeis vós o que a Escritura refere de Elias, de que modo pede ele justiça a Deus contra Israel? Senhor, mataram os teus profetas, derribaram os teus altares; e eu fiquei sozinho e eles me procuram tirar a vida (Romanos XI-2 e 3).

  Naqueles tempos difíceis, em que o povo de Israel estava mergulhado na idolatria, Deus concedeu uma graça especialíssima a 7 mil homens, preservando-os de caírem na adoração a deuses falsos: Mas que lhe disse a resposta de Deus? Eu reservei para mim sete mil homens que não dobraram os joelhos diante de Baal (Romanos XI-4). Um fato semelhante foi o que aconteceu agora depois da vinda de Cristo. Os judeus rejeitaram a Cristo obstinados na sua incredulidade, soberba e dureza de coração. Mas não foi total esta rebeldia. Deus salvou alguns judeus, livrando-os de cair naquele estado de obstinação e incredulidade, dando-lhes A GRAÇA DA VOCAÇÃO PARA A FÉ, chamando para o Cristianismo muitos deles, entre os quais o Apóstolo São Paulo: Do mesmo modo, pois, ainda neste tempo, segundo a eleição da sua graça, salvou Deus a um pequeno número que Ele reservou para si (Romanos XI-5).

   E por que foi que esses judeus receberam a graça da conversão? Foi porque tivessem sido melhores do que os outros? Foi porque tivessem merecido a conversão, por meio de suas obras? Não; se esta conversão foi uma GRAÇA, é porque Deus não indagou quais eram as obras praticadas por esses judeus para concedê-la, Deus os chamou por pura bondade e misericórdia: E se isto foi por graça, não foi já pelas obras; doutra sorte a graça já não será graça (Romanos XI-6).

   Os protestantes veem este texto em que São Paulo diz que a graça da conversão não foi merecida pelas obras, mas foi dada "de graça" e daí tiram a conclusão de que a nossa SALVAÇÃO, a nossa ENTRADA PARA O CÉU é dada também "de graça", o que já é bem diferente. Toda a sua confusão reside nesta palavra SALVOU: Deus os salvou. Mas, como já explicamos no capítulo 5º (nº 88), Deus salvou esses poucos judeus, quer dizer: salvou-os da apostasia, pôs esses homens no caminho da salvação. São Paulo aí não está garantindo que todos os judeus que se converteram ao Cristianismo infalivelmente conseguirão o Céu: se querem ir para o Céu, terão que FAZER FORÇA, ajudados pela graça, está claro, como tinha que fazer força o próprio São Paulo, que era um deles: Castigo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que não suceda que, havendo pregado aos outros, venha eu mesmo a SER REPROVADO (1ª Coríntios IX-27). Porque, segundo São Paulo, a entrada no Céu para ver a Deus face a face não é dada "de graça", ela tem um preço; este preço se chama SANTIDADE  e santidade inclui não só a fé, mas também as boas obras: Segui a paz com todos, e A SANTIDADE, SEM A QUAL NINGUÉM VERÁ A DEUS (Hebreus XII-14).

   Para acalmar alguns leitores porventura escrupulosos, temos que esclarecer que o estado de graça já é santidade, pode ser o primeiro grau, o abecê da santidade, mas é santidade sempre; é o estado da alma que goza da amizade de Deus, embora nem sempre seja o grau elevado de união com Deus  que se encontrou naqueles que mais propriamente nós chamamos: os santos.

   
  

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