sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A CERTEZA DA SALVAÇÃO - ( 11 )

   90. OVELHAS QUE NÃO PERECERÃO.

   Vejamos agora um trecho do Evangelho de São João muito citado pelos protestantes. Diz Jesus: As minhas ovelhas OUVEM A MINHA VOZ, e conheço-as e elas ME SEGUEM; e eu lhes dou a VIDA ETERNA, e elas nunca jamais hão de perecer, e ninguém as há de arrebatar da minha mão (João X-27 e 28). 

   Em que sentido aí se toma a expressão VIDA ETERNA?
   Pode-se tomar num sentido e noutro sentido. Às suas ovelhas fiéis, Jesus dá neste mundo a VIDA ETERNA, ou seja, a vida sobrenatural da graça e no outro a VIDA ETERNA, ou seja, a glória celeste, a visão beatífica. 

   - Mas o Mestre diz que elas NÃO PERECERÃO JAMAIS.
   - É claro, pois o Mestre se refere a ovelhas que OUVEM A SUA VOZ e que O SEGUEM. Como podem perecer as ovelhas que estão ouvindo a voz do seu Divino Pastor, que O estão seguindo? Se um dia entenderem de não ouvir mais esta voz que lhes fala ao coração, primeiro que tudo, pela voz da consciência, se um dia resolverem não seguir mais a Jesus, observando a sua lei, cumprindo os seus mandamentos, então a coisa já muda de figura. Quer dizer que a ovelha de Jesus tem que ser impecável? Não. A ovelha que costuma ouvir fielmente a voz de seu Pastor ainda mesmo quando por fraqueza comete um pecado grave, atende logo à voz de Jesus que procura atraí-la com o remorso, com as inspirações de sua graça, com o sincero arrependimento. É o caso da ovelha desgarrada, que o Bom Pastor vai buscar e traz docemente sobre os seus ombros; não traz, porém, a pulso e violentamente, mas sim quando ela, atraída pela graça, se entrega espontaneamente em seus braços. Se, porém, extraviando-se no pecado, a ovelha persiste em emaranhar-se no vício e em não atender às inspirações da graça, neste caso pode perecer. Mas já não está no número daquelas que SEGUEM A JESUS CRISTO E OUVEM A SUA VOZ.

   - Mas Jesus diz que ninguém arrebatará estas ovelhas de sua mão.
   - E quem foi que disse que, quando a ovelha voluntariamente abandona o rebanho e se afasta de Jesus pelo pecado, foi arrebatada violentamente das mãos de Jesus? Afastou-se porque quis, pois um ato, para ser pecaminoso, precisa ser voluntário e livre. Quando Jesus diz que ninguém arrebatará as ovelhas de sua mão, se refere às forças estranhas, às potestades infernais, ao torvelinho do mundo, aos inimigos de nossa salvação. As almas fiéis estão sob o abrigo da divina graça. Mas esta graça não força nem violenta a liberdade. A alma serve a Deus livremente e assim, pode abandoná-Lo. 

   Um tipo de OVELHAS muito especialmente confiadas à proteção, ao amparo, à vigilância de Jesus foram os Apóstolos. Entretanto, o Mestre, apesar de todo o seu empenho, não pôde CONSERVÁ-LOS todos; um se perdeu. Por que? Porque faltasse poder a Jesus? Não; mas porque Jesus respeitava a liberdade de cada um. O Divino Mestre, na sua oração sacerdotal proferida depois da Última Ceia, diz, dirigindo-se ao seu Eterno Pai e falando a respeito dos Apóstolos: Eu conservei os que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, mas somente o que era filho de perdição, para se cumprir a Escritura (João XVII-12).

   - Ah!, dirá o adversário, mas Judas se perdeu para se cumprir a profecia; O homem da minha paz, em que eu confiei, o que comia o meu pão, engrandeceu sobre mim a sua traição (Salmo XL-10). 
   - Mas que ideia faz Você, caro amigo, a respeito da palavra da Escritura, que á a própria palavra de Deus? Acha que a Escritura profetiza assim de oitiva, e depois se há de arranjar um pobre diabo para cumprir de qualquer maneira a palavra sagrada? A Escritura prediz aquilo que Deus prevê na SUA CIÊNCIA INFINITA; e Deus prevê tudo, mesmo aquilo que cada um dos homens vai fazer LIVREMENTE. Judas perdeu-se, porque não correspondeu à graça, porque usou mal de sua liberdade, porque não quis ser daquelas ovelhas que; até o fim, seguem a Jesus e ouvem a sua voz. E isto aconteceu a despeito de todo o empenho de Jesus em salvá-lo, porque Deus não quer a morte do ímpio, mas sim que o ímpio se converta do seu caminho e viva (Ezequiel XXXIII-11). 

   O homem só pode salvar-se livremente, e é livremente que se perde. Dizer o contrário seria destruir toda a noção da bondade, da justiça e da sabedoria de Deus. 

   Isto, porém, não impede que Deus, daquilo que os homens fazem livremente, se aproveite para realização de seus grandes desígnios; e assim a traição de Judas e o deicídio dos judeus foram meios de que Deus se serviu para operar a nossa Redenção. [Seria uma grande blasfêmia dizer que a perdição de Judas foi uma "armação"].

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