sábado, 20 de abril de 2013

COMO SURGIU A TEORIA DA SALVAÇÃO SÓ PELA FÉ - ( 19 )

   55.  A   MANHA  PROTESTANTE (a). 

   E assim o leitor já vai começando a tomar contato com este fenômeno tantas vezes comprovado: A MANHA PROTESTANTE.

   Cristo nos veio ensinar a doutrina da salvação. Teve, portanto, que falar muitas vezes sobre isto, ou melhor, sempre que falava era sobre este assunto. Mas não era necessário que cada vez que falasse sobre a salvação, repetisse enfadonhamente todas as coisas que são necessárias para o homem salvar-se. Uma noite em conversa com Nicodemos fala na necessidade do Batismo (João III-5). Em outras ocasiões mostra que o caminho do Céu é a observância dos mandamentos (Mateus XIX-17; Lucas X-25-28). Salienta ser imprescindível, para a salvação a caridade para com o próximo (Mateus VI-15 XXV-31 a 46). Se a salvação não é possível sem a remissão dos pecados, Ele mostra por mãos de quem nos chega esta remissão (João XX-23). Fala-nos da necessidade de recebê-Lo eucaristicamente para manter em nós a vida de graça e conseguir a vida eterna  (João VI- 54). Mostra-nos que no dia de juízo virá retribuir a cada um segundo as suas obras (Mateus XVI-27). Além disto, há um texto bem claro da Bíblia que nos diz abertamente que a fé sem as obras não pode salvar (Tiago II-14).

   Por isto, antes de Lutero, já fazia 15 séculos que a Bíblia vinha passando em muitas e muitas mãos; homens santos e sábios tinham-se debruçado sobre ela por toda a vida e feito luminosas interpretações, mas nenhum deles se havia lembrado de ver nas frases - Quem crê em Jesus se salva, que não crê se condena.; Crê em Cristo e serás salvo; o que crê no filho tem a vida eterna - a doutrina de que a fé, somente ela, sem as outras condições preceituadas por Cristo era capaz de salvar o homem. Estes textos estavam todos misturados na Bíblia e cada um sabia que cada trecho da Escritura merece toda a nossa consideração, e não um mais do que outro, porque todos são palavra de Deus. Além disto, a Igreja sempre teve como norma rejeitar qualquer doutrina, quando esta doutrina logicamente leva à imoralidade e à corrupção dos costumes. Porque, é claro, o Deus que nos ensina a verdade é o mesmo Deus que nos manda praticar as virtudes. 

   Chega, porém, Lutero e, na ânsia de resolver os problemas do seu espírito atribulado, não recua diante da doutrina ímpia e escandalosa: a fé, só ela é quem salva. Pouco lhe importam os outros textos bem claros, bem evidentes em que se mostra que outras coisas também são necessárias para a salvação. Refuga-os, despreza-os, torce-os, e chega até ao cúmulo de se declarar abertamente contra a própria Bíblia: "Se os nossos adversários, diz ele, fazem valer a Sagrada Escritura contra Jesus Cristo, nós fazemos valer Jesus Cristo contra a Escritura. Do meu lado tenho o Senhor; eles têm os servos; nós, a cabeça; eles os pés e os membros, que se devem sujeitar e obedecer à cabeça. Se é mister sacrificar-se a lei ou Jesus Cristo, sacrifique-se a lei, não Jesus Cristo" (Opera Latina I-387-a). "Tu fazes grande caso da Escritura que é serva de Jesus Cristo; eu, pelo contrário, dela não me importo. À serva liga a importância que quiseres, eu quero valer-me de Jesus Cristo, que é o verdadeiro senhor e soberano da Escritura e que mereceu e conquistou, com sua morte e ressurreição a minha justiça e a minha salvação eterna" (Walch VIII-2140 e sgs.).

   Admite assim Lutero que há contradição entre Jesus Cristo Salvador e as Escrituras, o que equivale a dizer, entre a Escritura e ela própria, pois o que sabemos de Jesus Cristo é pela Escritura. Interpretar a Escritura desta maneira, vendo nela contradições, decidindo-se por uns textos e rejeitando outros, isto não é interpretar, é mostrar claramente que não se encontrou ainda a verdade e se quer apenas lançar a confusão nos espíritos. 

continua no próximo post

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