terça-feira, 22 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: Duas causas que se unem e comparações

   29. DUAS CAUSAS QUE SE ENTRELAÇAM.

   Diante do que fica exposto sobre a ação e a necessidade da graça, se vê claramente que dizer que o homem se salva pela sua fé juntamente com suas obras ainda não é dar uma ideia exata da doutrina católica. O homem contribui com sua fé e suas obras para a salvação, mas não pode ter a fé, não pode fazer nenhum ato meritório, nem mesmo ter um pensamento salutar sem a graça divina. Cada ação meritória para a vida eterna é efeito de duas causas que se unem: a ação da graça de Deus alcançada por Cristo na cruz, e a livre cooperação do homem. 

   É por isto que diz São Paulo: OBRAI A VOSSA SALVAÇÃO com temor e tremor, não só como na minha presença, senão muito mais agora na minha ausência, porque Deus é o que OBRA EM VÓS O QUERER E O PERFAZER segundo o seu beneplácito (Filipenses II-12 e 13). Trabalhai na vossa salvação com receio e com tremor - é o esforço, o cuidado, o trabalho do homem; Deus opera em vós o querer e o executar - é o auxílio da graça divina.

   E o mesmo Apóstolo diz na 1ª Epístola aos Coríntios: Pela graça de Deus sou o que sou, e a sua graça não tem sido vã em mim; antes tenho trabalhado mais copiosamente que todos eles; não eu, contudo, mas a graça de Deus comigo (1ª Coríntios XV-10). O Apóstolo fala aí da ação conjunta do livre arbítrio e da graça: tenho trabalhado mais que todos eles - é o seu esforço pessoal. Não eu, contudo - isto é, não eu sozinho, com minhas próprias forças, mas com a graça de Deus a me ajudar, a graça de Deus trabalhou comigo.

   E é muito instrutivo nesta matéria o contraste que há entre um pequeno trecho do profeta Zacarias e outro das Lamentações de Jeremias. Em Zacarias se lê: Convertei-vos a mim, diz o Senhor dos exércitos, e eu me converterei a vós (Zacarias I-3). Aí Deus pede a cooperação do homem e promete a sua graça.
   Nos Trenos ou Lamentações de Jeremias se lê: Convertei-nos, Senhor, a ti e nós nos converteremos (Lamentações V-21). Aí o homem pede a graça divina e promete a sua cooperação.

   A Igreja católica sempre ensinou que o homem nada pode sem a graça de Deus e tudo pode com ela: Sem mim não podeis fazer nada (São João XV-5). Tudo posso n'Aquele que me conforta (Filipenses IV- 13).

   30. ALGUMAS COMPARAÇÕES CLÁSSICAS. 

   Já no século II, Santo Irineu dizia que, assim como a terra seca não pode frutificar sem a chuva, assim também nós não frutificaremos para a vida eterna, sem a chuva que Deus manda do Céu e que é a sua divina graça.

   No século V, Santo Agostinho fazia a comparação com o olho humano o qual, embora esteja são e perfeito, não pode ver nas trevas, precisa do auxílio da luz. Assim também, a alma precisa da graça de Deus para seguir o caminho da salvação: "Assim como o olho do corpo, mesmo estando plenamente são, não pode enxergar senão ajudado pelo brilho da luz, assim também o homem, mesmo perfeitissimamente justificado, não pode viver retamente, senão ajudado pela Eterna Luz da Justiça" (Apud Journel, Enchiridion Patristicum nº 1792).

   E é muito divulgada entre os católicos a comparação da ação combinada de Deus e do homem neste sentido com uma cena que vemos [víamos] comumente na intimidade das nossas famílias: a criança que não sabe escrever, escreve com a mão coberta pela mão de sua mãezinha. Foi por um ato livre que concordou em escrever juntamente com sua mãe; se não quisesse escrever, poderia ter emperrado. E quanto mais docilmente cooperar com sua mãezinha e se entregar à ação maternal, tanto melhor sairá a escrita, porque cada emperro de sua mão produzirá mais uma imperfeição, mais uma garatuja.

   Naturalmente toda comparação claudica, mas esta dá uma boa ideia do que é a ação de Deus em nossa alma, pois sem Deus nada podemos fazer e muitas vezes atrapalhamos a ação da graça com a nossa fraqueza e imperfeição. 

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