sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Êxodo XX, 5: legítima interpretação

   Caríssimos e amados leitores, vejamos agora o versículo 5º: "Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem".
   Já que o versículo 3º se refere aos deuses estrangeiros: "Não terás outros deuses diante de mim".
   Já que o versículo 4º: "Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra", como já provamos, se refere a imagens de escultura ou figuras destes mesmos deuses estrangeiros ( ou seja: os deuses falsos dos outros povos que eram pagãos idólatras) conclui-se claramente que a proibição de prestar culto, que lemos no versículo 5º se refere a imagens ou figuras destes mesmos deuses pagãos. Bastam os pronomes A ELAS e NEM AS (que sublinhamos no texto) para nos mostrar que é àquelas imagens de que fala o versículo anterior que é proibido prestar culto. No versículo anterior, Deus proibiu FAZER tais ídolos. Mas podia acontecer que os judeus, nas suas viagens ou recebendo visitas de gente de outros povos, se deparassem com tais ídolos que eles, judeus, não tinham fabricado, mas que foram feitos pelos outros. Ou podia acontecer que alguém, mesmo no seio do povo israelita, teimasse em fazer tais ídolos. Neste caso era preciso que soubessem os judeus que também lhes estava proibido, tanto adorá-los, como o prestar-lhes qualquer culto.
   E a prova de que Deus se refere a estes ídolos, a estas representações de deuses falsos, está na razão que Deus lhes apresenta: "Não te encurvarás a elas nem as servirás PORQUE EU SOU O SENHOR TEU DEUS". O que mostra muito bem que, sendo Ele o único Deus dos israelitas, não quer entrar em pé de igualdade com DEUSES ESTRANGEIROS, nem quer ser substituídos por eles.
   Os protestantes provariam que aí Deus está proibindo aos católicos fazer imagens de Jesus Cristo, de Maria Santíssima e dos anjos e santos e reverenciá-las, se conseguissem provar que estas imagens, venerandas e sagradas pelas pessoas que representam, são imagens daqueles DEUSES ESTRANGEIROS, que eram pura invenção do demônio, para afastar os homens do culto do Deus verdadeiro, culto este que nós, católicos, Lhe prestamos, reconhecendo o Seu supremo domínio sobre todas as coisas e reservando a Ele, só a Ele, o culto de LATRIA, ou seja, de verdadeira adoração. Nós não substituímos o culto de Deus pelo de outros deuses, nem pelo de nenhuma criatura.
   Diante, portanto, da legítima interpretação do texto, não há aí nenhuma proibição do culto das imagens, tal como é compreendido e praticado pela Igreja que Cristo fundou, ou seja, a Igreja Católica.

   A interpretação protestante.
   Analisemos agora a interpretação que os protestantes dão ao texto.
   Não é a interpretação verdadeira; mas ainda mesmo que o fosse, a proibição contida neste texto do ANTIGO TESTAMENTO não nos atingiria, assim como eles também não se sentem atingidos por ela. É o que iremos provar.
   Os protestantes separam completamente os dois versículos: para eles o 3º versículo é uma ordem; e o versículo 4º é outra ordem que nada tem que ver com o versículo anterior.
   Aqui o homem menos instruído logo se atrapalha com o sentido da palavra IMAGEM; e desta confusão se aproveita o protestante.
   Hoje, quando falamos em IMAGEM, logo nos lembramos das imagens sagradas, que vemos nas igrejas católicas. Era justamente o que não existia naquele tempo. Não havia imagem de Jesus Cristo, nem da Virgem Maria, nem de São Pedro ou de Santo Antônio ou de São Francisco etc., etc., por uma razão muito simples: é porque nem Jesus como homem, nem Maria Virgem, nem nenhum desses santos existia ainda. Havia, sim, os anjos, DOS QUAIS, como vimos, DEUS MESMO MANDOU FAZER IMAGENS.
   Imagens aí no texto se toma no sentido geral: representação de um ser, mostrando-lhe a semelhança. Uma imagem de escultura é, por exemplo, a estátua de um homem (quando trabalhei em Campos e discutia com algum protestante, eu dava o exemplo da estátua do Pastor Barreto que se vê em frente do Colégio Batista), um animal qualquer: um cachoro, um elefante; um carneiro feito de gesso ou de madeira ou de prata ou de ouro etc.
   Desde que acha o protestante que também para nós está proibido fazer qualquer imagem de escultura, então estão proibidas todas as estátuas. São condenadas pela lei de Deus... É preciso acabar com elas... São proibidos todos os animais feitos por escultura. Entrando numa casa, onde encontra na sala um gato ou um leão ou um cavalo ou um boi fabricado em gesso ou em madeira ou em metal, o "evangélico" deve protestar indignado, porque toda imagem de escultura é proibida por Deus. Tem que acabar, portanto, a profissão de ESCULTOR,  como sendo uma profissão de homens rebeldes e pecadores, que vivem fazendo justamente aquilo que Deus proíbe no seu mandamento.
   Mas não são somente os escultores que entram na dança; entram também todos os PINTORES, DESENHISTAS, GRAVADORES E FOTÓGRAFOS, porque o texto não proíbe somente qualquer imagem de escultura, mas proíbe qualquer FIGURA, SEMELHANÇA, seja de criaturas humanas, seja de astros, seja de animais ou de plantas, seja lá do que for, pois continua assim NEM ALGUMA   SEMELHANÇA  do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas.
   Entrando no atelier de um pintor e encontrando-o a pintar uma figura humana, o protestante terá que protestar: É proibido: Êxodo cap. 20, versículo 4; não podes fazer isto.
   E se o pobre pintor disser: Ao menos, deixe-me pintar um peixe ou outro animal qualquer, uma planta, ao menos uma flor. - Não! está na Bíblia, nada disto é permitido. Não se pode fazer a figura de coisa alguma: nada do que há em baixo na terra, nada do que há nas águas.
   Os livros ilustrados, bem como as fotografias, as gravuras, os desenhos que aparecem nas revistas ou jornais, bons ou maus, todos são proibidos.
   Ora, esta interpretação é evidentemente absurda. Não foi assim; Deus só proibiu fazer figuras de DEUSES ESTRANGEIROS, fosse qual fosse a forma sob a qual se apresentassem.
   E mesmo que se quisesse dizer que Deus falava sobre qualquer imagem ou figura em geral, ainda se poderia conceber que houvesse esta proibição PARA OS JUDEUS num tempo em que não havia ainda imprensa nem fotógrafos. Podia-se ainda imaginar que Deus, diante do grande perigo em que estavam os judeus de cair na idolatria pelo exemplo dos povos vizinhos, proibisse a este pequenino povo a arte dos pintores e dos escultores, afim de se evitar a ocasião de pecado. Seria então UM PRECEITO POSITIVO SÓ PARA ELES E OCASIONADO PELAS CIRCUNSTÂNCIAS. Mas querer fazer daí um preceito geral para todos os tempos, mesmo para os povos cristãos e civilizados que não estão mais, pelo simples fato de ver uma pintura ou uma estátua, em perigo de cair na idolatria, seria evidentemente cair no ridículo.
   O protestante, portanto, se não quer admitir que este versículo 4º se refere aos deuses estrangeiros, mencionados no versículo precedente, fazendo parte, portanto, da LEI NATURAL, como é em geral todo o Decálogo, tem que admitir que se trata de um preceito positivo só para os judeus. A não ser que queira apresentar como abomináveis e condenados por Deus todas as estátuas, todos os objetos de adorno em forma de figuras humanas ou de animais, todos os brinquedos de criança feitos no mesmo sistema, todas as pinturas, todas as gravuras de livros, todas as fotografias...

   Mas dirá o protestante: Deus não proíbe somente fazer imagens. Proíbe PRESTAR-LHES CULTO no versículo 5º e os católicos prestam culto às imagens. Resposta: É o caso de perguntar: Se você é obrigado a admitir (para não cair no ridículo) que o versículo 4º é endereçado só AOS JUDEUS, como pode provar agora que o versículo 5º, ou seja a proibição de prestar culto às imagens não é também um preceito SÓ para eles? Este versículo 5º está. não só logicamente, mas também GRAMATICAMENTE ligado ao versículo 4º. Um preceito que era SÓ PARA OS JUDEUS não nos atinge a nós, cristãos.

   CONCLUSÃO: Nós católicos sabemos muito bem que estamos obrigados a NÃO COMETER NENHUM ATO DE IDOLATRIA. Esta é uma lei natural, escrita nos nossos corações; e uma lei cristã, constantemente pregada pelos Apóstolos, como por exemplo: "Nem os idólatras... hão de possuir o reino de Deus" (1 Cor. VI, 9 e 10); "Meus caríssimos, fugi da idolatria" (1 Cor. X, 14).
   Mas o nosso culto às imagens está muito longe de ser uma idolatria, porque 1º, como já explicamos, as nossas imagens não são ídolos (ídolo é a representação de um deus falso); 2º, não prestamos a elas o culto de adoração ou latria (pois isto seria reconhecer-lhes o supremo domínio sobre todas as coisas), culto este que só prestamos a Deus.
   E, como já esclarecemos no princípio, este culto não é obrigatório no sentido de que só se salva quem rezar diante das imagens, ou que só se possa fazer oração diante delas. Mas a Igreja o conserva como um MÉTODO utilíssimo para instruir os fiéis, para avivar sempre no espírito de todos, até mesmo dos mais rudes, a lembrança das coisas celestiais e para melhor fomentar nos seus filhos o fervor, a piedade e a devoção.
  

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