domingo, 11 de setembro de 2011

O Pe. Dr. Expedito Schimidt, O.F.M. narra sua conversão

NB: É notável pela sua crítica literária e dramática: Seu livro mais famoso é: "DO LUTERANO AO FRANCISCANO".

   "Sinto-me deveras constrangido ao responder à pergunta: "Quando percebi, pela primeira vez, a insuficiência do meu protestantismo tradicional?" Desde que me libertei do pietismo sentimental da infância, que minha mãe, senhora de profunda piedade e bastante cultura, fez nascer em mim, não me recordo de ter jamais conseguido satisfazer às minhas aspirações religiosas.
   O ensino religioso do ginásio não me ofereceu aquilo a que aspirava. Um dos meus professores assegurava: "Nossa religião é, para todos os efeitos, a mais verídica". Então isso significava apenas frisar uma valor sumamente relativo, e eu ansiava por uma convicção lógica.
   Nem eu nem meus colegas supomos poder encontrar na Igreja Católica aquilo que não encontrávamos no protestantismo. Ela era, em nossa opinião preestabelecida, uma Igreja para os fracos de espírito, que necessitavam de exterioridades; era, finalmente, uma forma antiquada de cristianismo. Como a maioria dos protestantes, nós éramos hegelianos inconscientes para os quais estava esmagado, duma vez para sempre, tudo aquilo que a mera dialética superava.
   Tratava-se também, durante o preparo para o dia da Confirmação ( que era a substituição da primeira santa comunhão), muito secundariamente da Igreja católica, que era logo rejeitada com algumas palavras leves e muito altivas. Mas toda a ira luterana de nosso professor, dirigia-se contra os colegas de Lutero na tarefa reformatória. Lutava contra os reformadores que ensinavam outra coisa que a doutrina de Lutero; combatia especialmente Zwínglio e Calvino. Foi justamente este ponto que me chamou a atenção: quem destes três tinha razão? Quem me diria onde encontrar a autoridade divina? Naturalmente ninguém me respondia a essa pergunta e, ignorando em qual dos três homens poderia confiar e acreditar, acabei por desconfiar e descrer de todos os três. Destarte resultou do ensino religioso da Confrmação uma acentuada descrença.
   Quando, conforme o costume, foi pronunciada em coro a profissão de fé, durante a confirmação, - silenciei. Não podia professar a fé, e não queria mentir. Se minha bondosa mãe não tivesse estado gravemente adoentada naquela época, eu teria negado a aceitar a Confirmação. Não queria, porém, causar-lhe este desgosto.
   Participei de tudo em atenção a minha mãe doente, mas longe de mim estava qualquer sentimento de fé. Não negligenciei as orações pouco a pouco, como sói acontecer algumas vezes nestes casos, mas acabei com as rezas em determinado dia propositadamente, convencido de que  era absurdo devido à minha mentalidade. Claro que não falei com ninguém sobre o assunto. De resto, meu ambiente mal se teria apercebido disso, porque quase ninguém da família ou dos conhecidos, a não ser minha mãe, praticava uma vida de oração mais profunda. Meu interesse por questões religiosas, no entanto, ficou sempre muito vivo, se bem que num sentido quase só negativo, como é de fácil compreensão.
   Quatro anos mais tarde veio a metamorfose numa época de aflição. Voltava-me o pensamento de Deus, mas não conseguia balbuciar uma oração. Quis visitar uma igreja protestante. Já estava na entrada do templo. Mas adiei a decisão. Dei meia volta e entrei, quase instintivamente, numa igreja católica, simplesmente porque suas portas, qual convite amável, sempre estavam abertas. E aqui ouvi uma prática, completamente diferente das protestantes, sobre o evangelho da pesca milagrosa de São Pedro. Não foi nenhuma peça magistral de oratória, mas tinha algo completamente impessoal, inteiramente objetivo, de maneira que senti: aqui se manifesta um espírito diferente. Tornei a voltar, assisti também à santa Missa, embora sem a compreender e sem proferir uma oração; era simples observador. Alguns dias depois fui à casa paroquial e falei da minha inclinação para a Igreja Católica, recebendo uma resposta bastante negativa de modo que tudo quanto ouvira sobre as "pescas" apressadas dos católicos e seu proselitismo perdeu duma vez para sempre seu efeito.
   "Não temos tanta pressa" - foi a resposta do sacerdote católico. Justamente esta atitude me impressionou. Aumentava,  dia a dia, o desejo de conhecer bem a Igreja, que manifestamente era tão diferente das informações que nos haviam sido inoculadas. Queria conhecê-la, sacrificando mesmo, se necessário, minha convicção anterior.
   Voltei e tornei a voltar à casa paroquial. Finalmente ganhei de presente um pequeno catecismo católico que estudei com toda a aplicação. Aí notei a confiança absoluta da Igreja Católica em si mesma, considerando-se coluna e alicerce da verdade. Inicialmente parecia-me essa confiança absoluta da Igreja uma presunção, pois tinha sempre  imaginado a Igreja Católica apenas como uma das demais comunidades religiosas cristãs. Impressionava-me senti-la vivificada por um espírito diverso do protestantismo, onde nunca chegara a saber quem dos pretensos reformadores propriamente estava com a razão. Em todo caso achei-me obrigado a conhecer profundamente esta Igreja. Mas só mais tarde cheguei a reiniciar a oração quando da minha estada num hospital católico, onde se rezava em comum.
   Deus foi bom para comigo; levou-me, por caminhos humanamente nem sempre retilíneos, para perto de um sacerdote católico que me conduziu ao seio da Igreja. Muito mais tarde ouvi de outros, que acompanharam a minha preparação, quão obstinadamente pedi esclarecimentos pormenorizados sobre a autoridade divina da Igreja. O resto seguiu-se com muita naturalidade.
   A lógica da doutrina católica levou-me para a Igreja, como a lógica deficiente me expulsou do protestantismo. Contava, então, 19 anos. Jamais, nem sequer por um segundo, me arrependi de ter seguido esta lógica.

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