sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O PADRE TEODORO RATISBONNE FALANDO SOBRE A ORAÇÃO

   "A palavra oração não significa apenas as fórmulas pronunciadas pelos lábios; abrange todos os atos, todos os impulsos, todos os movimentos tendentes à união da alma com Deus.
   Orar é amar; a finalidade do amor é a união com o objeto amado. A oração responde ao amor pelo amor."Amareis com todo vosso coração, com todas as vossas forças, com todas as vossas faculdades". Eis a lei da vida. Para viver a verdadeira vida, é necessário, portanto, que todas as nossas faculdades concorram para a oração. É este exercício a base da piedade cristã; e a virtude perde toda a sua solidez quando o abandonamos. O progresso espiritual não depende nem da multiplicidade, nem da extensão das orações; depende  exclusivamente das comunicações íntimas e incessantes com Jesus Cristo, o Santo dos santos. Não é pelos atos exteriores, mas sim pelas afetos, aspirações e elevações de nossa alma que nos dirigimos a Deus. Seria necessário expor as vantagens de um exercício que nos aproxima sempre mais do foco do eterno amor?
   Se, do relacionamento com as pessoas sensatas, resulta um aperfeiçoamento do nosso proceder; se, do entretenimento com os sábios, nos tornamos mais cultos; quanto proveito não havemos de tirar desses íntimos colóquios com o Deus das virtudes, nestas comunicações com o céu? Não é tanto pelo ensino, como pela prática e pelo exercício, que a alma se inicia nestes suaves mistérios. É, contudo, salutar seguir os avisos de guias experimentados. São todos unânimes em nos aconselhar a prepararmos a ascensão do nosso coração, pela aplicação do pensamento nos exercícios da meditação. Para se acender o fogo, deve-se primeiramente juntar a madeira, a resina, o combustível que irá alimentar a chama. O alimento da meditação são os atos da vida e da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, são as emocionantes passagens de sua Paixão ou ainda as vivificadoras palavras consignadas na Escritura. A não ser que uma alma, favorecida por graça especial, se eleve espontaneamente aos píncaros do amor, a criatura deve procurar  e seguir fielmente um método de meditação adaptado as suas disposições particulares e necessidades íntimas.
   Santa Teresa d'Ávila, Santo Inácio, São Francisco de Sales e outros diretores eminentes, explicaram esses santos métodos.
   Não é preciso arte para regular o amor. Há, contudo, conselhos que variam para os principiantes, para os mais adiantados e ainda para os que já atingiram maior perfeição. O método mais fácil consiste em ler algum ponto em livro autorizado, e em seguida refletir sobre as verdades expostas, digeri-las, ruminá-las, por assim dizer, assimilar a substância nutritiva e retirar a verdade que deverá ser aplicada à vida prática. Para esta espécie de meditação, é preciso ler pouco e bem.
   Assim como a pomba que pousa à margem do regato para sorver algumas gotas e, depois, reabrindo suas asas, desfere o voo para as nuvens, a alma contemplativa toma as migalhas da palavra de Deus e, depois de revigorar suas forças, estende as asas dos seus bons desejos e remonta aos céus.
   Este sistema de meditação tem a vantagem de ocupar todas as faculdades espirituais, pois que, enquanto a memória se fixa e a inteligência reflete, os pensamentos santos se formam na vontade e tomam vigor e a alma toma uma resolução bem determinada e prática.
   Santa Teresa compara estes métodos de meditação a andaimes sobre os quais a alma se eleva a uma certa altura. É evidente que uma alma, atingindo as culminâncias da união com Deus, conseguindo expandir-se em atos inflamados de fé, esperança e amor, não deve se deter no pedestal, não necessita mais descer ao pé da escada, para metodicamente galgar os degraus. Voa direita a Deus: é a oração de simplicidade.
   Parece que Nosso Senhor reservou a si mesmo o ensino da oração. é a Ele que se dirige a chefe dos apóstolos par obter esta sagrada ciência: "Senhor, ensinai-nos a orar!" Ouçamos a lição do divino Mestre: "Quando orardes, entrai em vossa cela, fechai a porta e orai a vosso Pai em segredo; e vosso Pai, que vê o que é oculto, vos atenderá". A cela de que aqui se trata é o coração. - "Meu reino está dentro de vós", diz Nosso Senhor Jesus Cristo. - É aí que Deus reside, nos fala, nos ouve e nos responde; aí é que amamos e que somos amados. A Escritura nos revela que Ele se delicia entre os filhos dos homens. Mas, para tornar o coração sensível a esses sublimes contatos, é necessário recolhimento, calma, silêncio. É preciso que permaneçam fechadas as portas dos sentidos, sob a guarda de uma vigilância atenta, a fim de impedir que os rumores externos venham perturbar a soledade interior. Nesse pacífico abandono, pouco se fala, contempla-se, goza-se, saboreia-se o dom de Deus; e a alma emocionada, expande-se com a singeleza de uma criança. Como vibra ao mínimo sopro a corda musical, assim responde a alma à ação do Espírito Santo e exclama, com amor: "Abba, Pai! Benditas as almas que, em troca de humilde fidelidade, chegam à experiência destes profundos sentimentos de amor de Deus, seu Pai! Desfrutam já neste mundo as primícias do futuro gozo, exclamando com Davi: "Que haverá para mim no céu e que poderia pedir à terra, senão vós, ó Senhor, que sois o Deus do meu coração e minha partilha na eternidade?" É Jesus Cristo que, cumulando-nos do seu espírito e dos seus sentimentos, nos ensina a divina oração, em que damos ao Deus Altíssimo o nome de Pai!
   Chamamo-Lo: Nosso Pai, para dilatar a alma na caridade, ao mesmo tempo que ela aumenta no amor. Ele nos move a pedir que o nome deste Pai todo-poderoso seja para sempre glorificado - que seu reino se estabeleça em nós e fora de nós - que sua vontade - expressão de Sua sabedoria, de sua providência, de sua terna solicitude - seja feita na terra como no céu. Então, depois de prestar ao Autor de todo o bem as adorações a Ele devidas, imploramos para nós a graça que nos é necessária cotidianamente e, como muito recebemos, prometemos dar muito, tudo perdoar; derramamos sobre o nosso próximo a misericórdia que nos foi prodigalizada; pedimos, enfim, o auxílio contra a tentação, suplicando a nosso Pai celeste terminar em nós a obra da Redenção, livrando-nos de todo mal.
  O Pai-Nosso é a oração-mãe, de onde promanam todas as filiações da oração; ela resume em si todos os outros objetos de oração e cada uma de suas palavras contém aplicações infindas.
   Para terminar, aconselho que à noite durante alguns instantes leiam os pontos da meditação do dia seguinte. Estas palavras como que germinam durante o sono, como grãos de luz, e nosso primeiro pensamento, ao despertar, pela manhã, seria bom e santo.
   As disposições de nossa alma nos primeiros momentos da manhã influem, por sua vez, sobre todos os atos do dia, e imprimem um feliz impulso ao tempo decorrente.
   É no seio de Deus que devemos sorver a água viva que se derrama como uma bênção sobre as obras e atividades diárias. Nossa vida interior será o que fôr a nossa meditação.

Um comentário:

  1. Obrigada por publicar a mística do nosso fundador Pe. Teodoro Ratisbonne. A Congregação Nossa Senhora de Sion é uma luz dentro de outra luz: Maria-Sion-Jerusalém. Shalom!

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