segunda-feira, 5 de setembro de 2011

EXCERTO DO DISCURSO DO PAPA PIO XII NA CANONIZAÇÃO DE PIO X

  Num ambiente de excepcional solenidade foi canonizado, no dia 20 de maio de 1954, o Papa Pio X. Eis um pequeno excerto do discurso que Sua Santidade Pio XII proferiu naquela oportunidade:
   Falando sobre o Código de Direito Canônico: 
   5- A raiz profunda da obra legislativa de Pio X deve procurar-se principalmente na sua santidade pessoal, na sua íntima persuasão de que a realidade de Deus, por ele sentida em comunhão incessante de vida, é a origem e o fundamento de toda a ordem, de toda a justiça e de todo o direito no mundo. Onde está Deus, há ordem, justiça e direito; e, por outro lado, toda a ordem justa defendida pelo direito, manifesta a presença de Deus. Mas, na terra, que instituição devia manifestar mais eminentemente esta fecunda relação entre Deus e o direito, senão a Igreja, Corpo Místico do próprio Cristo? Deus abençoou abundantemente a obra do Bem-aventurado Pontífice, de modo que o Código de Direito Canônico será sempre o grande monumento do seu Pontificado, e Pio X poderá considerar-se o Santo providencial do tempo presente.
   6- Este espírito de justiça e de direito, de que ele foi testemunha e modelo para o mundo contemporâneo, penetre nas salas das Conferências dos Estados, nas quais se discutem problemas gravíssimos da família humana, em particular o modo de afugentar para sempre o temor de pavorosos cataclismos e de assegurar aos povos longa e feliz era de tranqüilidade e paz.
   Falando da condenação do Modernismo:
   7- Invicto campeão da Igreja e Santo providencial dos nossos tempos, se revelou também Pio X na segunda empresa característica da sua obra, e que, em conjunturas por vezes dramáticas, deu a impressão duma luta travada por um gigante em defesa dum tesouro inestimável: - a Fé. Já desde a meninice, tinha a Providência Divina preparado o seu eleito numa família humilde, baseada na autoridade , nos sãos costumes e na fé escrupulosamente vivida. Sem dúvida, qualquer outro Pontífice, em virtude da graça de estado, teria combatido e teria rechaçado os assaltos tendentes a ferir a Igreja no seu fundamento. É necessário, porém, reconhecer que a lucidez e a firmeza, com que Pio X dirigiu a vitoriosa luta contra os erros do modernismo, mostram o grau heróico em que a virtude da fé ardia no seu coração de santo. Pensando unicamente em conservar intacta, para o rebanho que lhe fora confiado, a herança de Cristo, o grande Pontífice não conheceu fraquezas diante de pessoas de qualquer dignidade ou autoridade, nem vacilações diante de doutrinas fascinadoras mas falsas, dentro da Igreja ou fora, nem qualquer temor de atrair sobre si ofensas pessoais ou de ver malsinadas as suas puras intenções. Teve clara consciência de lutar pela mais santa causa de Deus e das almas. A letra se verificam nele as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo ao Apóstolo São Pedro: "Pedi por ti para que não desfaleça a tua fé, e tu... confirma os teus irmãos" (S. Luc. XXII, 32). A promessa e a ordem de Cristo suscitaram mais uma vez, na rocha indefectível dum Vigário seu, a têmpera indômita do atleta. É justo que a Igreja lhe decrete neste momento a glória suprema, no mesmo lugar em que refulge há séculos, sempre viva, a glória de Pedro, confundindo assim um e outro numa só apoteose. Exalta reconhecidamente a Pio X e invoca ao mesmo tempo a sua intercessão, para que não se renovem tais lutas. Aquilo de que então propriamente se tratava, era a conservação de união íntima da fé com o saber. Era bem de tão grande valor para toda a humanidade, que esta segunda obra do santo Pontífice transcende o próprio mundo católico.
   8- O modernismo separava e opunha o princípio e o objeto da fé e da ciência, realizando nos dois campos vitais tão profunda cisão que equivalia à morte. Foi o que se viu na prática. O homem, que na passagem do século estava já dividido no seu íntimo, embora ainda com a ilusão de possuir a harmonia e a felicidade, baseadas num progresso puramente humano, sentiu-se despedaçado sob o peso duma realidade bem diferente.
  9- Pio X viu com olhar vilgilante, aproximar-se esta catástrofe espiritual, esta desilusão amarga, especialmente para os meios cultos. Intuiu como tal fé aparente, fundada não em Deus revelador mas em bases puramente humanas, redundaria no ateísmo. Descobriu do mesmo modo o fatal destino dessa ciência, que contrariava a natureza e livremente se manietava. Com efeito, inibia-se a si mesma de caminhar para a Verdade e o Bem absoluto, deixando assim o homem sem Deus, defronte da invencível obscuridade em que para ele tudo se envolvia. Restava-lhe apenas a atitude da angústia ou da arrogância.
   10- O Santo contrapôs a tão grande mal a única salvação possível e real: a verdade católica, bíblica, da fé, aceita como "rationabile obsequium"(Rom. XII, 1) { ="um culto racional"}, prestado a Deus e à sua revelação. Coordenou deste modo a fé e a ciência, aquela como extensão sobrenatural e às vezes confirmação da segunda, e esta como caminho que leva à primeira. Restituiu assim ao homem cristão a unidade e a paz do espírito, condições imprescritíveis de vida.
   11- Todos os que se voltam hoje para esta verdade, impelidos pela indigência e pela angústia, têm a felicidade de na Igreja a poderem encontrar perfeita. Devem agradecê-lo à visão de Pio X. Ele é de fato benemérito por ter preservado do erro a verdade, seja nos que têm fé, que lhe gozam de plena luz, seja naqueles que sinceramente a buscam. Para os outros, a firmeza que mostrou diante do erro pode ainda parecer pedra de escândalo; mas, na realidade, foi o serviço de maior caridade que um Santo podia prestar a todos os homens, como Chefe da Igreja.


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