sábado, 7 de maio de 2011

OS NOSSOS DEVERES PARA COM O HÓSPEDE DIVINO

   Primeiro dever: PENSAR MUITAS VEZES neste Deus que vive em nós e fazer-lhe companhia. Quando uma pessoa notável nos dá a honra de nos visitar, nós apressamo-nos a dispensar-lhe o melhor do nosso tempo e a tornar-lhe a estadia junto de nós tão agradável quanto possível. Não será precisamente isso o que devemos fazer em relação ao nosso hóspede divino, que nos dá a honra de nos visitar e de estabelecer em nós a sua morada? A Ele que se ocupa incessantemente dos interesses da nossa alma, havíamos de esquecer? Santa Teresa d'Ávila censurava-se por ter vivido tanto tempo sem pesnsar frequentemente na Santíssima Trindade. "Compreendia bem, escrevia ela, que tinha uma alma, mas a estima que essa alma merecia, a dignidade do hóspede que nela habitava - isso não o compreendia bem, porque as vaidades da existência eram como uma cortina diante de meus olhos. Se tivesse compreendido como agora, que era grande o Rei que habitava o pequeno palácio de minha alma, parece-me que não o teria deixado só tantas vezes" (Cf. Caminho de Perfeição, cap. XXVIII). Muitos leitores hão de censurar-se da mesma maneira e esforçar-se doravante por fazer companhia ao hóspede divino desde a manhã até à noite.
   Os meios são simples: 1º - Recolhermo-nos no começo dos nossos trabalhos, dizendo: Deus vive em mim, e consagrarmos às três pessoas divinas o ato que vamos realizar. É para isto que fazermos o sinal da cruz no início dos nossos trabalhos.
                                          2º - Sabendo que o hóspede divino é para o homem uma fonte de luz, de força, de consolação, as alma interiores voltam repetidamente para Ele, no decurso dos seus atos, os olhos do espírito e do coração.
                                          3º - Nas orações, as almas interiores nunca esquecem as palavras de Jesus: "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e, tendo fechado a porta, ora a teu Pai, que está presente, em segredo" (Mat. VI, 6). O quarto onde se recolhem é a cela do coração. É aí que encontram a Santíssima Trindade, é aí que, unidas, incorporadas no Verbo Encarnado, adoram e suplicam em silêncio. 
   Segundo dever: ADORAÇÃO. Como não glorificar e louvar este hóspede divino, que, sendo Deus, transforma a nossa alma num verdadeiro santuário? E com que amor se deve repetir a doxologia dos primeiros cristãos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, que não é uma fórmula vaga, porque exprime todos os sentimentos de adoração, de louvor e de amor. Sobretudo quando assiste a Santa Missa, a alma interior gosta de orar pausadamente, de saborear, digamos assim, todas as preces em honra da Santíssima Trindade: o Kyrie eleison, o Gloria in excelsis Deo, o Sanctus, o Pater-Noster; e, quando no fim da missa, o sacerdote se inclina sobre o altar para suplicar à Santíssima Trindade que se digne aceitar o sacrifício que acaba de oferecer, a alma piedosa acrescenta a oferenda do seu próprio coração e sente-se confortada para todo o dia.
   Terceiro dever: O AMOR. E o nosso amor não há de manifestar-se apenas em sentimentos piedosos, mas em obras e sacrifícios: 1º - Será um amor penitente, que se propõe expiar as infidelidades. 2º - Será  um amor reconhecido, que agradece todos os dons a este insigne benfeitor, a este consolador dedicado que opera em nós e conosco com tanto zelo e constância. 3º - Será um amor de amizade, que nos levará a corresponder às ambilidades divinas com uma santa alegria e a conversar afetuosamente com o mais fiel e o mais generoso dos amigos; que nos levará sobretudo a aceitar todos os seus interesses, a procurar a sua glória, a louvar e a fazer louvar o seu santo nome. 4º - Será enfim um amor generoso, que vai até o sacrifício, ao esquecimento de sì, à aceitação cordial de todas as provações que lhe aprouver enviar-nos. Como Santa Teresinha do Menino Jesus, diremos sinceramente: "Não sou egoísta: é a Deus que eu amo e não a mim... A minha alma está sempre na escuridão; mas eu sou feliz, sim, muito feliz, por não ter qualquer consolação... Teresa ama a Jesus só por Ele".
   Quarto dever: A IMITAÇÃO. O amor generoso conduz à imitação. O homem deseja assemelhar-se o mais possível àquele a quem ama. Mas como imitar a Trindade, cuja santidade é infinita? De duas maneiras: evitando cuidadosamente tudo o que pode toldar a pureza da alma, e adornando-a de todas as virtudes. Templo vivo da Santíssima Trindade, o cristão deve conservar com cuidado extremo a pureza do corpo e da alma. Digamos com santa energia: "Antes morrer, ó meu Deus, do que manchar o vosso santuário; antes morrer do que expulsar-vos do meu coração, introduzindo nele o pecado e o demônio".
   "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito" (Mat. V, 48). Para facilitar esta tarefa o Filho de Deus fez-se homem como nós, viveu a nossa vida, abraçou as nossas misérias e as nossas fraquezas, exceto o pecado, e tornou-se, assim, o caminho que devemos trilhar para subir até ao Pai.
   Há, no entanto, uma virtude cuja prática Nosso Senhor nos recomenda, para imitarmos a unidade perfeita que reina entre as três pessoas divinas: a caridade fraterna. "Que todos sejam um, como tu, meu Pai, o és em mim e eu em ti, para que eles sejam um em nós" (S.João, XVII, 21). Nos primeiros séculos, os pagãos se convertiam vendo este bom exemplo dos cristãos e diziam: "Vede como eles se amam!"

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