terça-feira, 10 de maio de 2011

O NOSSO ORGANISMO SOBRENATURAL

   Vamos terminar o nosso estudo sobre a graça.
   Deus, que habita na nossa alma, não permanece nela apenas para receber as nossas adorações e homenagens; quer também dar-se a nós e levar-nos até Ele para termos a felicidade perfeita.
   Deus é vida e fonte de vida: "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens". (S.João, I,4). Ora, para nos levar até Ele, Deus quis comunicar-nos uma participação da sua vida divina. Mas, fracas criaturas  que somos, como poderemos nós receber esta participação da vida de Deus? Só se aprouver à bondade divina completar e aperfeiçoar a nossa alma, dotando-a de um organismo sobrenatural, muito superior ao que podem exigir as criaturas mais perfeitas. Ora é precisamente o que Ele faz, vindo habitar em nós.
   Como homens, todos temos, por natureza, uma vida intelectual que nos permite conhecer a verdade e amá-la. Mas ela não pode proporcionar-nos mais que um conhecimento imperfeito, adquirido ao preço de muitos trabalhos, pela reflexão, pela análise, pelo reciocínio, por uma longa série de induções e deduções, em que estamos sujeitos a enganar-nos. É esta vida que Deus vai trnsformar: sem nada tirar do que há de bom em nós, insere na nossa alma um organismo sobrenatural completo.
   Já vimos, ao tratar do graça santificante, que Deus espalha, digamos assim, na própria substância da nossa alma, a graça habitual, que desempenha em nós o papel de princípio vital sobrenatural, fazendo-os semelhantes, mas mão iguais, a Deus, e preparando-nos, embora de uma maneira remota, para conhecer a Deus como Ele se conhece e para o amar como Ele se ama. Desta graça santificante dimanam as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo, que sobrenaturalizam as nossas faculdades naturais, e nos dão o poder imediato de praticar atos meritórios de vida eterna.
   Para pôr em movimento estas faculdades, concede-nos graças atuais, que nos iluminam a inteligência, fortificam a vontade, dão-nos energias que superam de longe as nossas forças e ajudam-nos a praticar ações a que podemos chamar deiformes; com efeito, trata-se não de atos meramente humanos, mas de atos que, embora sendo nossos, são também de Deus, pois Ele quer ser nosso colaborador e operar em nós o querer e o agir (Fil. II, 13). Como já vimos, a graça penetra totalmente o nossa vida natural e eleva-a tornando-a semelhante à vida de Deus. A vida própria de Deus é ver-se a si mesmo diretamente e amar-se infinitamente, visto ser infinitamente amável. Ora, nenhuma criatura por mais perfeita que a imaginemos, pode por si mesma contemplar a essência divina, que habita numa luz inacessível a toda criatura (1Tim. VI, 16). Mas Deus, por um privilégio inteiramente gratuito, chama o homem a contemplá-lo face a face no céu, com Ele se contempla a si mesmo, não certamente no mesmo grau, pois o homem é um ser limitado, mas do mesmo modo, diretamente, sem raciocínio, sem intermidiário. Tal é o sentido desta frase de São Paulo: "Nós agora vemos como por um espelho (i.é, por um intermidiário), obscuramente, mas depois vê-lo-emos face a face; agora conheço-o em parte, mas depois hei de conhecê-lo como sou conhecido" (1Cor. XIII, 12 13). É também este o pensamento de São João quando diz: "Agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que seremos um dia. Sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos como é" (1 S. João, III, 2). É participarmos de uma maneira finita, mas real, da própria vida de Deus; é conhecê-lo como Ele se conhece, amá-lo como Ele se ama.
   No céu veremos a Deus; na terra, comungamos já do seu pensamento pela fé. que é a luz de Deus. É, pois, bem verdade que pela fé  e pela caridade começamos a conhecer a Deus como ele se conhece e a amá-lo como Ele se ama, embora num grau muito inferior, e que começamos a participar da Sua vida.
   A liberalidade divina outorga-nos generosamente, no próprio momento em que recebemos a graça habitual, um conjunto de virtudes e de dons sobrenaturais. As virtudes sob a direção da prudência, nos permitem operar sobrenaturalmente com o concurso da graça atual. Os dons nos tornam tão dóceis à ação do Espírito Santo que, guiados por uma espécie de instinto divino, somos, por assim dizer, movidos e dirigidos por este divino Espírito. Devemos advertir, porém, que estes dons não se exercem de modo frequente e intenso senão nas almas mortificadas.
   No exercício das virtudes, a graça deixa-nos ativos, sob o influxo da prudência. No uso dos dons, quaando estes atingiram pleno desenvolvimento, exige de nós mais maleabilidade do que atividade. Façamos uma comparação: Quando a mãe ensina o filhinho a andar, umas vezes, contenta-se de lhe guiar os passos, impendindo-o de cair; outras vezes, toma-o nos braços, para o ajudar a vencer um obstáculo  ou lhe dar um pouco de descanço. No primeiro caso, é a graça cooperante das virtudes; no segundo caso, é a graça operante dos dons.
   Além de tudo isso, o Nosso Pai celestial concede-nos GRAÇAS ATUAIS.
   A graça atual é um auxílio sobrenatural e transitório que Deus nos dá para nos iluminar a inteligência e fortalecer a vontade na produção dos atos sobrenaturais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário